fonte: O Globo
As enfermarias com infectados pela Covid-19 do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), já não estão lotadas como em maio. Mas as UTIs seguem repletas de pacientes e Ronaldo Damião se diz alarmado, pois eles estão chegando em condições ainda mais graves.
Como está a situação no hospital?
Temos 52 leitos de UTI ocupados, 12 vagas para adultos. Nas enfermarias, são 45 leitos ocupados e há 45 vagas. Isso muda a cada dia, em função de altas e óbitos, mas essa é a tendência. A solicitação de vagas em enfermarias diminuiu, mas continua igual para a UTI. E há um detalhe preocupante.
Qual detalhe?
É que os pacientes chegam em estado mais grave. Isso faz com que a mortalidade seja elevada: 25% dos óbitos ocorrem em até 48 horas após a internação na UTI porque a pessoa já chega em estado crítico, às vezes, quase morta.
Por qual motivo isso ocorre?
Porque muita gente fica em casa por dificuldade de acesso ao atendimento e só consegue ser internada quando o quadro já se agravou. A doença entrou com força nas comunidades mais pobres, muitos desses pacientes estavam em UPAs à espera de uma vaga em UTI. Além disso, também tem crescido o número de pacientes com câncer avançado e Covid-19, casos extremamente graves.
Existe um motivo para esse aumento?
Pacientes com câncer avançado e outras doenças muito graves ficaram em casa nesse período, muitos com medo de contrair o coronavírus. Com isso, o quadro delas se agravou ainda mais. E, infelizmente, algumas acabaram infectadas e desenvolveram Covid-19 severa. É por isso que precisamos retomar o ritmo normal de internações não Covid-19, como de pessoas com obstruções arteriais, diabetes, varizes e fraturas que já deveriam ter sido operadas.
O que o senhor pensa das medidas de flexibilização neste momento?
Não era ainda a hora de abrir. Acho que esta semana estamos atravessando o pico da pandemia aqui no município do Rio de Janeiro, mas ainda teremos casos. Porém, precisamos voltar a atender normalmente (no hospital). Planejamos a abertura (para casos não-Covid-19) a partir de 22 de junho, de forma gradual. E, claro, continuaremos a manter vagas para pacientes com Covid-19. É um processo muito difícil.
Qual a dificuldade?
Como gestor estou aprendendo que é mais difícil sair do que entrar nas medidas necessárias contra o coronavírus. Há muitas nuances e muitos protocolos também.
Quais mudanças o senhor prevê?
São tantas e tão novas que ainda estamos aprendendo. Precisamos desinfectar todo esse imenso hospital, desmobilizar algumas das áreas voltadas para Covid-19 e criar estratégias para que os pacientes sem Covid-19 tenham o risco reduzido. É complexo demais. E, sobretudo, precisamos nos preparar. Acreditamos que vai acontecer uma segunda onda, sobretudo em função desse relaxamento tão precoce.