fonte: O Globo

O Ministério da Saúde divulgou nesta sexta-feira que 19% dos 432.668 profissionais de saúde testados para o novo coronavírus no país tiveram resultado positivo. No total, 83.118 trabalhadores foram diagnosticados com a doença. De acordo com a pasta, foram relatados 169 óbitos de profissionais da área até o momento.

O número de profissionais testados até o momento, no entanto, representa um pequeno contingente dos cerca de 6 milhões de profissionais da saúde cadastrados em conselhos de suas respectivas categorias no Brasil.

A maior parte dos resultados das análises não foi informada ao Ministério da Saúde. Os dados da pasta mostram que 43,86% dos testes, ou seja, 189.788 profissionais não notificaram a pasta se o teste deu positivo ou negativo.

Durante coletiva de imprensa, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, afirmou que diante do quadro o governo vai impulsionar medidas para a prevenção da contaminação por esses profissionais.

— Estamos intensificando a oferta de EPIs em todos os estados e também de cursos para uso adequado desses equipamentos—  afirmou.

Segundo a secretária, o número de resultados não informados é alto, porque, muitas vezes, os profissionais acabam fazendo o teste em estabelecimentos particulares e não informam o resultado à pasta.

— A gente vem insistindo junto às secretarias para que haja maior numero de testagem de profissionais da saúde. Uma das estratégias que pensamos é tem um banco de dados para substituir esses profissionais (em caso de doença). Quando a gente testa, tem a possibilidade de afastar o profissional e proteger os pacientes que são atendidos —  disse Mayra.

Questionada sobre o motivo de a testagem de profissionais no Brasil ser tão baixa, a secretária afirmou que “nenhum país do mundo” tem capacidade para diagnosticar todos seus trabalhadores da área.

— Esses números servem apenas para que a população tenha certeza de que estamos fazendo todo esforço para proteger profissionais. No mundo inteiro, nenhum país conseguiu testar todo mundo. O Brasil não é diferente, porque as pessoas têm autonomia se querem ou não fazer o teste. Não existe estratégia hoje em nenhum país para testar um contingente como esse que estamos mencionando de 6 milhões de profissionais —  disse ela, acrescentando que pode ter ocorrido casos de profissionais testados que não informaram do teste ao serviço público.

Subnotificação

A categoria com maior número de infectados e mortos é a dos enfermeiros com 12.807infectados e 42 mortes. O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), no entanto, afirma que há subnotificação nos dados do Ministério da Saúde. Eles apontam que 18.756 casos foram reportados  ao Cofen e 194 óbitos.

— Acreditamos que são dados subnotificados por conta da disponibilidade de testagem. O Brasil é o país com maior número de óbitos de profissionais de enfermagem. Inicialmente, o ministério estava empenhado em resolver o problema, mas o órgão tem tido uma sequência de interferências e agora os próprios conselhos não têm mais uma relação direta com a pasta.Vemos isso com muita preocupação. Já estamos no terceiro ministro — critica Gilney Guerra, diretor do Cofen.

A categoria com segundo maior número de infecções e mortes é a dos médicos com 10.788 casos e 18 óbitos. Presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, a médica Luciana Rodrigues Silva, criticou o fato de o Brasil testar pouco e o que chamou de “orientações divergentes”. Segundo ela, na semana passada, dois pediatras foram vítimas da doença.

— O número de testados é muito pequeno, estamos atravessando um momento muito difícil e nos preocupa as orientações que são divergentes. Sabemos que a população precisa de lideranças que façam comunicados diários sobre a situação. Precisamos de melhor aparalheamento e pessoal. Já há profissionais de saúde, como médicos e enfermeiros que inclusive morreram pela infecção  — diz a médica. — Deveríamos estar conduzindo isso de maneira diferente, testando as pessoas, fazendo formação continuada dos médicos.  Nossos profissionais estão na linha de frente e precisam de todo cuidado de gestores para que possam continuar a atender e ter condições de trabalho adequadas.