fonte: O Globo
Pelo menos 50 mil brasileiros deixaram de receber o diagnóstico de câncer devido à pandemia do novo coronavírus, segundo um levantamento das sociedades brasileiras de Patologia (SBP) e Cirurgia Oncológica (SBCO). O cancelamento de consultas, exames e cirurgias estão entre as principais causas para esse horizonte preocupante. Mas o medo dos próprios pacientes de procurar atendimento em meio ao avanço da Covid-19 também contribuiu.
— Já existia um gargalo na oncologia. A preocupação, agora, é que tenhamos um grande número de pacientes em que o câncer será identificado em estágio mais avançado. Vai aumentar o custo de tratamento desses pacientes. E o mais importante: é um custo social enorme — afirma o médico patologista Clóvis Klock, presidente da SBP.
Apenas nos serviços públicos de referência do Rio, as duas sociedades levantaram que, de março a maio de 2020, foram realizadas 13.241 biópsias, cerca da metade das que tinham sido feitas no mesmo período do ano passado. Nesses mesmos meses, na rede pública de São Paulo, a queda foi ainda maior: só 5.940 biópsias, frente às 22.680 do ano passado. Klock cita ainda o exemplo da cidade de Caxias do Sul, na Serra Gaúcha, com uma redução de mais de 500 mamografias pelo Sistema Único de Saúde.
— Temos levantado a necessidade de discutir o problema. Mas parece que falamos ao vento. É preciso uma coordenação de todas as esferas. Se esperarmos mais, nem a saúde suplementar vai dar conta.
A dona de casa Eliana Melchiades, de 43 anos, sentiu na pele como um diagnóstico tardio pode ser cruel. Após verificar o aparecimento de um pequeno caroço no seio, em fevereiro do ano passado, decidiu investigá-lo só em outubro. A essa altura, sua mama esquerda já havia sido tomada pelo câncer, e a direita tinha 17 linfonodos. Após passar por 12 sessões de quimioterapia, teve sua cirurgia marcada e realizada, em meio à pandemia.
—Num primeiro momento, fiquei receosa. Mas meu médico foi firme, disse que minha cirurgia não podia ser cancelada e que não havia risco, pois o hospital onde eu seria operada contava com uma ala especial, separada, para os pacientes de coronavírus. Ele me passou muita segurança. Fiz a cirurgia no dia 24 de abril e deu tudo certo. Agora, continuarei com a quimioterapia —conta ela.