fonte: Faperj
Pesquisadores das Universidades Federais do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Espírito Santo (UFES) publicaram artigo que mostra qual foi o índice de fatalidade pela infecção (do inglês, Infection Fatality Ratio ou IFR) do SARS-CoV2 no Brasil. Os dados apontam que os idosos acima de 70 anos tiveram um risco de óbito 100 vezes maior do que jovens até 30 anos, nos seis primeiros meses da pandemia. Além disso, houve uma grande variação entre os 27 estados brasileiros, sendo Pernambuco, Mato Grosso, São Paulo, Espírito Santo e Sergipe líderes no ranking de morte. Os dados estão no artigo publicado no periódico International Journal of Infectious, em 2021.
O físico Miguel Quartin, da UFRJ, explica que o estudo se baseou em bases de dados como o Epicovid, o Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep Gripe), e o Painel Coronavírus, a referência nacional que fornece os dados de óbito por região.
Os dados de 89 mil pessoas em 133 cidades satélites são oriundos do estudo Epicovid e trouxeram os resultados dos testes rápidos de modo a se obter a melhor representatividade brasileira. Estes testes permitiram estimar a prevalência média da doença nas mais de 100 cidades, em três etapas do estudo, conduzido entre maio e junho de 2020. Isto permitiu a obtenção de uma boa estimativa do número total de infectados, que é o denominador do IFR. Quartin explica que os primeiros artigos com dados do Epicovid não estimaram o IFR. Nesse sentido, o atual estudo procura cobrir essa lacuna.
Segundo Quartin, o Epicovid foi crucial para estabelecer a prevalência da doença nas 133 cidades envolvidas, o que contornou o problema da baixa testagem e subnotificação de casos. O Painel Coronavírus tinha o número total de mortes. E embora o Sivep Gripe tenha ficado incompleto no número de mortes a partir de maio de 2020, possuia informações a respeito de datas importantes no quadro da doença: aparição de sintomas, aparição de sintomas graves e subsequente óbito. Isto foi utilizado para se determinar o atraso temporal de 10 dias entre o desenvolvimento de anticorpos e fatalidade subsequente. Vale destacar que o tempo médio entre infecção e fatalidade foi bem maior, de 23 dias. As análises também possibilitaram identificar a idade dos pacientes, permitindo calcular o IFR para diferentes faixas etárias, o que confirmou por exemplo que o IFR dos acima de 70 anos foi 100 vezes maior do que os abaixo dos 30 anos.”O nosso estudo que delineia a razão de fatalidade por infecção permitiu contornar a difícil questão da subnotificação de casos que ocorreu no mundo inteiro e, com isso, determinar a real gravidade da covid-19. No momento atual, as vacinas diminuíram em muito os casos graves e a fatalidade, mas esses ganhos podem ser revertidos se a pandemia perdurar. Conseguimos determinar com precisão qual foi o patamar inicial da fatalidade da doença”, diz o físico.
Quartin ressalta que um dos pontos fortes do artigo é que evita a questão da subnotificação dos casos, que é a maior incerteza nesse tipo de análise, fazendo uso dos dados do levantamento de soroprevalência aleatório. Com esse levantamento, o grupo chegou a uma taxa de 1,03% que significa que, em média, sobre todas as faixas etárias, aproximadamente 1 em cada 100 pessoas infectadas (sintomáticas ou assintomáticas) vieram a óbito. Com os dados coletados e analisados, ficou atestada a periculosidade da doença na ausência de vacinas ou de tratamentos mais eficazes e reforça mais uma vez a importância da imunização. A taxa identificada é muito maior do que a da gripe, mas menor do que a da febre amarela, sem vacinação, ou da Mers.