Dando continuidade à série de publicações sobre patologias frequentes em crianças, a CIPERJ vai falar de Tumores Abdominais pediátricos, que podem ser caracterizados como benignos ou malignos.

Veja, no texto abaixo, os tipos de tumores abdominais, seus sintomas e possíveis tratamentos, conforme os esclarecimentos da Dra. Simone Coelho, Cirurgiã Pediátrica Oncológica do INCA, do Hospital Quinta D´Or e do Centro Hospitalar de Niterói.

A especialista faz um alerta para a importância do diagnóstico precoce em caso de aparecimento de massas abdominais na infância.

                              TUMORES ABDOMINAIS NA INFÂNCIA: O QUE SÃO? COMO TRATAR?

  • O que são tumores abdominais em crianças?

Os tumores abdominais são neoplasias, benignas ou malignas, que ocorrem na região do abdome.

Quando benignos podem ser císticos ou sólidos (cisto de mesentério, cistos de ovário, hemangioma hepático, teratoma maduro de ovário, entre outros)

Os tumores abdominais malignos (cânceres) mais comuns em crianças, são os neuroblastomas, seguido pelo tumor de Wilms (tumor renal, nefroblastoma), hepatoblastoma (tumor hepático), linfoma, tumor de ovário, tumor de pâncreas, carcinoma de supra-renal (glândula localizado acima do rim), e mais raramente, o rabdomiossarcoma abdominal, tumor desmoplástico de pequenas células, entre outros.

  • Quais são os sinais e sintomas?

Normalmente os tumores abdominais não causam sintomas até que se apresentem como grandes massas abdominais ou com sintomas relacionados aos sítios de metástase. Na maioria das vezes são identificados pelos responsáveis através da palpitação de tumorações endurecidas na região abdominal. Mais raramente, pode estar associado a dor abdominal, febre, perda de peso, irritabilidade, icterícia e outros.

  • Qual é o tratamento?

O tratamento dos tumores malignos trimodal (usa três modalidades diferentes de tratamento), escolhido de acordo com o tumor e o grau de avanço em cada caso. Quimioterapia (antes ou após o tratamento cirúrgico), cirurgia e radioterapia podem ser usadas.

Cada caso é avaliado de acordo com o estadiamento tumoral, que consiste em avaliar através de exames o quanto que o tumor se disseminou, o que pode variar desde um tumor localizado até metástases à distância.

Os casos são discutidos por uma equipe multidisciplinar, em Centros de Oncologia Pediátrica, a fim de se decidir o melhor tratamento para cada paciente, com a melhor chance de cura, menos complicações e sequelas e melhor sobrevida.

  • Como é a cirurgia?

O procedimento cirúrgico varia desde uma biópsia tumoral (que pode ser por agulha ou por laparotomia – cirurgia aberta) até uma ressecção tumoral alargada (retirada de todo o tumor abdominal). Na maioria dos pacientes é necessária uma cirurgia aberta, mas cirurgias por vídeo são possíveis em alguns casos.

  • Quanto tempo de duração?

O tempo de cirurgia varia de acordo com a complexidade, podendo demorar desde 1 hora até 16 horas ou mais. Costumo dizer que não temos pressa para operar, pois precisamos tomar todo o tempo necessário para o melhor êxito possível.

  • Que tipo de anestesia? Local ou geral?

Na maioria das vezes, a anestesia é geral, podendo estar associada a bloqueio local ou peridural, com colocação de um cateter peridural para o controle de dor pós-operatória.

  • Como é o pós-cirúrgico? Quanto tempo de internação para o procedimento?

Quando a criança é submetida a uma biopsia tumoral, na maioria das vezes com uma agulha especial guiada por ultrassonografia ou tomografia computadorizada, o pós-operatório é realizado na enfermaria ou no quarto, com uma recuperação em um a dois dias.

Quando ela é submetida a uma ressecção cirúrgica ampla, o pós-operatório costuma ser feito no CTI. Ao se recuperar, em cerca de uma semana, a depender do procedimento realizado, será avaliada a necessidade de colocação de drenos intracavitários, e do controle de dor pós-operatória, além de fisioterapia e tempo de jejum, entre outros procedimentos.

  • Qual a incidência da doença?

A estimativa de câncer no Brasil, segundo dados de 2018 do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), aponta para 420 mil casos novos de câncer/ano. Destes, 3% são tumores pediátricos, somando 12.500 casos novos de câncer por ano em crianças e adolescentes (até os 19 anos).

Apesar da baixa incidência de câncer na população pediátrica, trata-se da principal causa de morte por doença em crianças entre 5 a 19 anos.

A sobrevida em 5 anos aumentou para em torno de 80% em países de alta renda, nos últimos 50 anos. Esta queda da mortalidade do câncer foi mais evidente nos países desenvolvidos e está relacionada à diagnóstico precoce, maior efetividade das intervenções terapêuticas e investimentos em pesquisa e prevenção, mesmo em se tratando de um tópico difícil em pediatria por não estar relacionado a fatores externos.

  • Médica (cirurgiã pediátrica oncológica) do Instituto Nacional de Câncer – INCA – RJ, do Hospital Quinta D´Or (ONCOCIPE) e Centro Hospitalar de Niterói (ONCOCIPE);
  • Graduada em Medicina pela UNI-RIO;
  • Residência em Cirurgia Pediátrica pelo Hospital Universitário Pedro Ernesto (UERJ);
  • Especialização em Cirurgia Pediátrica Oncológica pelo INCA;
  • Pós-graduação em Vídeo-cirurgia pelo Instituto Fernandes Figueira (IFF – Fiocruz);
  • Mestrado em Medicina (Ciências Cirúrgicas) pela UFRJ;
  • Membro titular da Associação Brasileira de Cirurgia Pediátrica (CIPE) e do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC);
  • Membro da International Society of Paediatric Surgical Oncology – SIOP, da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica – SOPOBE e Associação de Cirurgia Pediátrica do Estado do Rio de Janeiro – CIPERJ.