fonte: MedScape
Caso um dos pais tenha câncer, aumenta a probabilidade de seus filhos faltarem à escola, darem entrada em serviços de emergência e sofrerem consequências negativas em termos de saúde mental, mostra novo estudo.
“Todos os que já foram tocados pelo câncer sabem a destruição que [a doença] pode causar nas pessoas e em suas famílias”, disse em um comunicado à imprensa o primeiro autor do estudo, Dr. Zhiyuan Zheng, Ph.D., cientista sênior e economista de saúde da American Cancer Society (ACS). “Nosso estudo mostra claramente os efeitos devastadores do câncer parental nas crianças, em termos de dificuldades financeiras e saúde mental e física.”
O estudo foi publicado on-line em 11 de abril no periódico JAMA Pediatrics.
Receber um diagnóstico de câncer pode afetar os membros da família, mas os especialistas sabem pouco sobre o impacto que o câncer parental pode ter no bem-estar de uma criança.
A partir de dados recentes da National Health Interview Survey dos EUA, Dr. Zhiyuan e colegas identificaram 1.232 crianças (média de idade: 11,7 anos) cujas famílias tinham história de câncer parental e 33.870 (média de idade: 10,8 anos) cujas famílias não tinham história de câncer parental.
Em modelos não ajustados, crianças cujas famílias tinham história de câncer parental foram mais propensas a faltar à escola por motivo de doença ou lesão (razão de chances [RC] de 1,33) e a não receber os cuidados médicos necessários em função do valor (RC, 1,60), em comparação com pares que não passaram por tal situação.
Essas crianças também tiveram mais chances de tomar medicamentos controlados por pelo menos três meses (RC de 1,70), dar entrada em um serviço de emergência (RC de 1,56) e ter uma saúde mental mais frágil. Os problemas de saúde mental incluíram se sentir preocupado (RC de 1,48) ou infeliz, deprimido ou choroso (RC de 1,61), ter dificuldade em fazer tarefas domésticas ou deveres de casa (RC de 1,61) e apresentar dificuldade de concentração, regulação de emoções ou convivência (RC de 1,75).
Nos modelos totalmente ajustados, a maioria dos desfechos de saúde das crianças permaneceram negativamente associados à história de câncer parental.
“O escopo e a profundidade das associações entre a história de câncer parental e o absenteísmo escolar e outros desfechos de saúde das crianças são preocupantes, especialmente porque podem acarretar problemas de saúde mais graves na idade adulta”, escreveram Dr. Zhiyuan e colegas.
A equipe de Dr. Zhiyuan também pretende estudar como o câncer parental afeta o bem-estar mental e físico em longo prazo.
“É importante que oncologistas, pediatras e generalistas realizem a triagem de crianças com história de câncer parental para determinar como elas foram impactadas, e forneçam cuidados e apoio conforme necessário”, disse Dr. Zhiyuan.
Impacto colateral oculto do câncer em famílias
No editorial que acompanhou o estudo, o médico Dr. Chris Feudtner, Ph.D., mestre em saúde pública, do Children ‘s Hospital of Philadelphia, nos EUA, e seus colegas observaram que grande parte da assistência médica se dá “inteiramente desavisada” do impacto colateral da doença dos pacientes na saúde e bem-estar de outros membros da família.
“Este impacto colateral é importante. A doença pediátrica demonstrou ter efeitos profundos no bem-estar dos pais. O inverso também é verdadeiro”, escreveram Dr. Chris e colegas.
É óbvio que as famílias de indivíduos com doenças graves precisam de mais apoio do que o atual sistema de saúde fornece.
“Abordar as necessidades dessas famílias requer não apenas fornecer apoio e recursos adicionais em instituições de saúde individuais, mas também reavaliar cuidadosamente como profissionais e programas em diferentes áreas da vida da família podem apoiar as famílias, e quais políticas em nível local, estadual e federal fariam com que as famílias recebessem o apoio de que precisam”, concluíram Dr. Chris e colegas.