fonte: Medscape

Segundo pesquisadores, a metformina, um antidiabético oral amplamente utilizado, pode causar defeitos congênitos no sistema urogenital, como criptorquidia e problemas uretrais, na prole masculina de homens que usam o medicamento.

A associação parece estar relacionada com os efeitos da metformina sobre a espermatogênese durante um período crítico antes da concepção. A prole feminina não foi afetada. Apesar de estudos anteriores já terem mostrado uma relação entre diabetes mellitus e problemas de fertilidade em homens, o estudo mais recente é o primeiro a mostrar que esses problemas podem ser resultado do tratamento e não da doença em si, de acordo com os pesquisadores, que tiveram os seus achados publicados da edição de 28 de março do periódico Annals of Internal Medicine.

“Esses são os primeiros dados a sugerir que o uso paterno de metformina pode estar associado a defeitos congênitos em crianças. Dessa forma, ainda é cedo para se iniciar mudanças na prática clínica”, disse ao Medscape o médico Dr. Michael Eisenberg, diretor de medicina reprodutiva masculina e cirurgia do Departamento de Urologia da Stanford University School of Medicine, nos Estados Unidos, um dos coautores do estudo. “Entretanto, caso esses achados sejam confirmados em outras populações, é possível que esse assunto comece a ser discutido em consultas de planejamento familiar.”

O Dr. Michael acrescentou que uma dieta nutritiva, a prática de atividade física e a manutenção de um peso saudável “também podem melhorar a saúde e a fertilidade masculina”.

Para o estudo em tela, o Dr. Michael e colaboradores analisaram prontuários em um registro do total de 1,25 milhão de nascimentos ocorridos na Dinamarca entre 1997 e 2016. O registro continha informações sobre defeitos congênitos e prescrições de medicamentos usados pelos pais das crianças.

A prole foi considera exposta a um antidiabético se o pai havia recebido uma ou mais prescrições médicas para esse tipo de medicamento nos três meses anteriores à concepção, quando o esperma fecundante teria sido produzido.

A análise final abrangeu 1.116.779 crianças (todas de partos únicos de mulheres sem história de diabetes ou hipertensão essencial), das quais 7.029 foram expostas a medicamentos antidiabéticos através do pai e 3,3% (n = 36.585) apresentaram um ou mais defeitos congênitos importantes.

Nas proles masculinas cujos pais usaram metformina (n = 1.451), houve uma incidência 3,4 vezes maior de defeitos congênitos geniturinários, de acordo com os pesquisadores. O estudo não conseguiu identificar associações entre defeitos congênitos e o uso de insulina. Apesar de ter sido observado algum sinal de alterações com medicamentos da classe das sulfonilureias, esse achado não alcançou significância estatística.

O risco associado à metformina não foi observado em homens que receberam a prescrição do medicamento um ano antes ou depois da espermatogênese. Também não houve evidências de risco nos irmãos dos meninos com defeitos congênitos que não foram considerados expostos ao medicamento, relataram os pesquisadores.

Em um editorial que acompanha o artigo, a Dra. Germaine Buck Louis, PhD, epidemiologista reprodutiva e perinatal, escreveu: “Dada a prevalência do uso da metformina como tratamento de primeira linha para diabetes tipo 2, é urgente que esses achados sejam confirmados.”

A Dra. Germaine, reitora da College of Health and Human Services da George Mason University, nos Estados Unidos, disse que uma das principais limitações do estudo foi a falta de dados sobre a adesão dos homens ao tratamento para o diabetes. Mesmo assim, escreveu ela, “a orientação clínica é necessária para auxiliar casais que planejam a gestação a ponderarem os riscos e os benefícios do uso paterno de metformina em relação a outras medicações”.