fonte: O Globo

Baterias de botão e de lítio alimentam muitos dispositivos eletrônicos comuns nas casas da maioria das famílias: controles remotos, chaveiros, termômetros, balanças, brinquedos e até mesmo cartões comemorativos.

Mas as baterias, que são pequenas, redondas e brilhantes, podem representar uma ameaça significativa à saúde de crianças, que as engolem, as colocam no nariz ou nos ouvidos.

Um relatório publicado na revista Pediatrics sugere que esse problema está crescendo nos Estados Unidos. A procura por uma emergência pediátrica de 2010 a 2019 por esse motivo mais que dobrou na comparação com o período de 1990 a 2009 — a maior parte dos casos eram crianças menores de 5 anos.

De 2010 a 2019, a média de atendimentos pediátricos relacionadas à bateria no pronto-socorro foi de uma a cada 1,25 horas, contra uma a cada 2,66 horas na década anterior, segundo dados do National Electronic Injury Surveillance System.

— Os pais podem não saber que certos produtos em sua casa são alimentados por baterias pequenas e, muitas vezes, desconhecem o risco de ingestão que as baterias representam — explica Mark Chandler, principal autor do estudo e associado de pesquisa sênior da Safe Kids Worldwide, uma organização sem fins lucrativos que trabalha para combater lesões na infância.

Engolir uma bateria é perigoso, porque o dispositivo gera uma corrente elétrica quando entra em contato com fluidos corporais, como a saliva, que pode queimar o tecido corporal de uma criança e levar a complicações, com risco de morte. Os dados do novo estudo não forneceram informações detalhadas sobre os resultados dos pacientes, mas 12% das crianças que foram levadas ao pronto-socorro precisaram de hospitalização, a maioria por ingestão.

— As baterias mais comuns usadas em dispositivos domésticos disponíveis são do tamanho de uma moeda, um tamanho perfeito para ficar preso no esôfago — diz David Brumbaugh, professor associado de pediatria da Escola de Medicina da Universidade do Colorado, que não trabalhou no novo estudo.

— Sérios danos ao tecido podem ocorrer em questão de horas — acrescenta Brumbaugh — Então, para gastroenterologistas pediátricos, otorrinolaringologistas, cirurgiões pediátricos e anestesiologistas , as equipes que retiram essas baterias do esôfago, essas ingestões são realmente assustadoras. Você está em uma situação de emergência para tirar a bateria e super preocupado com o dano que está sendo causado — acrescenta.

Em agosto, o presidente americano, Joe Biden, sancionou um projeto de lei que reforça os padrões de segurança para produtos com baterias de botão, exigindo que elas carreguem uma etiqueta de alerta para manter as baterias fora do alcance das crianças, garantindo que tenham compartimentos resistentes aos pequenos. Conhecida como Lei de Reese, foi nomeada em homenagem a Reese Hamsmith, uma criança de 18 meses que morreu em dezembro de 2020 depois de engolir uma bateria do controle remoto.

Ian Jacobs, diretor médico do Centro de Distúrbios Pediátricos das Vias Aéreas da Divisão de Otorrinolaringologia do Hospital Infantil da Filadélfia, disse acreditar que a nova lei vai ajudar a reduzir o número de lesões relacionadas à bateria e visitas ao departamento de emergência.

— Acho que começaremos a ver a curva se achatar um pouco, mas levará tempo — diz Jacobs, co-presidente de uma força-tarefa de bateria de botão criada pela American Broncho-Esophagological Association e American Academy de Pediatria. Ele observou, no entanto, que os fabricantes têm um ano para cumprir os novos regulamentos. Mesmo depois desse tempo, é provável que as famílias ainda tenham dispositivos eletrônicos mais antigos por aí.

Jacobs incentivou os pais a percorrerem suas casas e verificarem quais dispositivos eletrônicos contêm baterias de botão para que possam mantê-las fora do alcance das crianças. Eles devem estar atentos, afirmou. A indústria de brinquedos já adotou padrões voluntários com mecanismos de trava nos compartimentos de bateria, de modo que outros dispositivos domésticos podem representar uma ameaça mais séria.

— A grande preocupação, agora, são os dispositivos eletrônicos de consumo, como controles remotos. Crianças as jogam contra as paredes ou o chão, e os compartimentos se abrem — alerta Brumbaugh.

Os responsáveis devem manter todas as baterias trancadas e fora da vista de crianças pequenas, disse Chandler. Pilhas alcalinas maiores também são perigosas se ingeridas, embora isso seja menos provável devido ao seu tamanho, de acordo com a Academia Americana de Pediatria.

Se os pais acreditarem que o filho engoliu uma bateria ou a colocou no nariz ou nos ouvidos, eles devem ligar para a emergência e procurar um pronto-socorro imediatamente.

Os sintomas podem ser semelhantes a outras infecções comuns, o que pode dificultar o diagnóstico se um pai ou mãe não souber que seu filho encontrou uma bateria. Uma criança que coloca o dispositivo no ouvido, por exemplo, pode ter drenagem ou dor – não muito diferente de uma infecção no ouvido. Os sinais de que uma criança pode ter engolido uma bateria incluem, mas não estão limitados a tosse, recusa a comer ou beber, vômito ou respiração ruidosa.

A Academia Americana de Pediatria recomenda que, se uma família tiver mel em casa, dê duas colheres de chá a cada 10 minutos para qualquer criança com mais de 1 ano que tenha engolido uma pilha de botão nas últimas 12 horas, porque pode ajudar a proteger o tecido e retardar o desenvolvimento da lesão — o mel não deve ser dado a bebês com menos de 1 ano, pois pode causar botulismo infantil. Mas os pais não devem adiar a ida ao hospital para primeiro obter o mel.

— Se você suspeitar que seu filho engoliu uma bateria acidentalmente, peça ajuda imediatamente — aconselha Jacobs — Quero dizer, nem hesite.