fonte: MedScape
Pesquisas recentes mostram que 45.000 médicos com mais de 65 anos ainda estão trabalhando, enquanto 100.000 já se aposentaram. O que mantém alguns na profissão, enquanto outros se afastam? Coliquio, uma plataforma do Medscape, entrevistou alguns colegas para explorar suas motivações e planos de vida, revelando três das principais razões pelas quais os médicos continuam trabalhando.
1. Questões financeiras
Para alguns, o dinheiro é uma razão óbvia para continuar trabalhando; o sonho de se aposentar sem dívidas só pode ser realizado se eles permanecerem por mais alguns anos trabalhando. Eles estão esperando o momento ideal, ou seja, quando não tiverem empréstimos pendentes ou encontrarem um sucessor para seu consultório. Reduzir a carga de trabalho é uma opção, mas se afastar completamente nem sempre é fácil.
“Sylnlaeg”, uma ginecologista e usuária do Coliquio, compartilhou um dilema familiar: “Todas as férias, eu me pergunto: quanto eu realmente preciso para viver confortavelmente? Posso me dar ao luxo de reduzir – talvez abrir mão – 25% ou até 50% do meu tempo de trabalho?”, questionou ela.
Também há um debate acerca da possibilidade de incentivos financeiros trazerem médicos aposentados de volta. O Dr. Klaus Reinhardt, médico e presidente da Associação Médica Alemã, sugeriu uma redução de impostos, citando como exemplo o sucesso da França em trazer 20.000 médicos de volta ao mercado de trabalho. Será que isso funcionaria para os 100.000 médicos aposentados da Alemanha?
Uma análise de uma discussão no fórum do Coliquio mostra que, para muitos médicos, a ideia soa incompreensível, especialmente porque, por muito tempo, houve um limite de idade fixo para a aposentadoria: até 2008, os médicos alemães eram obrigados a se aposentar aos 68 anos. Agora, apenas 15 anos depois, alguns acham irônico o esforço para recontratar aposentados.
“Não entendo esses debates. Enquanto uma proporção indescritivelmente alta de tempo de trabalho de clínicos gerais e médicos de hospitais for desperdiçada em tarefas administrativas e de gestão, não há necessidade de vir até mim com tais debates”, comentou outro usuário, Volker Schlautmann, psiquiatra e psicoterapeuta.
No entanto, a questão de incentivos significativos estimula uma reflexão mais profunda. Outro usuário, especialista em clínica médica, compartilhou sua visão pessoal na discussão do fórum, sonhando com uma profissão médica livre de telemática, processos judiciais, obrigações de atendimento a emergências e as inúmeras regulamentações que tiram a alegria do trabalho.
A renda não parece ser a razão mais importante para continuar trabalhando. Uma vez que as principais obrigações financeiras são liquidadas, outras motivações prevalecem.
2. Paixão pelo trabalho
Apesar desses desafios, a medicina continua gratificante. O usuário “urmayr”, psicoterapeuta, expressou de forma simples:
A profissão dá “a sensação de se fazer algo importante, algo que vai durar”. Isso é particularmente enriquecedor quando os pacientes são acompanhados por um longo período ou quando o sucesso do tratamento finalmente se torna visível em casos críticos. Para muitos colegas, a gratidão e o apreço dos pacientes também são um dos momentos encantadores que geralmente terminam abruptamente com a aposentadoria.
Para alguns, reduzir horas de trabalho, em vez de se aposentar totalmente, é um equilíbrio perfeito. A usuária “micuebmlfa”, especialista em clínica médica, compartilhou sua experiência: “Agora, aos 67, trabalhar dois meios períodos de maneira completamente independente em uma nova clínica é divertido, pois você pode ter um relacionamento bem-humorado e descontraído com a equipe e os pacientes, sem o menor indício de estar sobrecarregada. Isso é facilmente factível e desejável na minha área e, desde que não haja autojulgamento equivocado, continuarei a fazê-lo por um tempo. Não preciso de incentivos para isso”.
3. Um senso de dever
Um motivo para continuar trabalhando além da idade de aposentadoria é o próprio senso de responsabilidade. A assistência médica é escassa, principalmente em regiões rurais. Muitos médicos valorizam as relações pessoais que construíram com seus pacientes e se sentem comprometidos em continuar a fornecer atendimento. Essa motivação também foi discutida no fórum, em que participantes debateram se deixar de atender convênios – independentemente da idade – pode ser antiético para com os pacientes.
Um neurologista observou que se sentiria culpado por deixar de atender convênios, pois muitos de seus pacientes não têm condições de pagar por tratamento médico particular.
Até mesmo médicos prontos para se aposentar muitas vezes hesitam, preocupados com a assistência a seus pacientes. No entanto, a crescente burocracia e a pressão financeira estão fazendo com que esse senso de dever se perca. Uma colega pediatra e hebiatra compartilhou suas impressões de que só lhe restam de 5 a 10 minutos para se dedicar à papelada depois do atendimento médico, o que é frustrante no longo prazo. À medida que as pessoas envelhecem, essa percepção pode se tornar um fator chave na decisão de continuar trabalhando. Cada indivíduo deve decidir se reduz suas horas de trabalho, faz a transição para um novo emprego ou muda para uma profissão diferente.