São Paulo, 16 de outubro de 2019
O noticiário de mídia de hoje (https:http://g1.globo.com/mg/vales-mg/noticia/2019/10/15/menino-de-3-anos-tem-parte-do-penis-amputada-apos-cirurgia-de-fimose-em-mg-e-pai-se-desespera-fui-pro-chao.ghtml, https:http://www.folhavitoria.com.br/saude/noticia/10/2019/pai-de-crianca-que-teve-penis-amputado-durante-cirurgia-de-fimose-faz-vaquinha-online-para-pagar-tratamento https:http://odia.ig.com.br/brasil/2019/10/5811604-menino-de-3-anos-tem-parte-do-penis-amputada-em-cirurgia-de-fimose-e-cirurgiao-e-encontrado-morto.html) denunciou, com grande destaque, a ocorrência de perda acidental do pênis em uma criança de três anos, durante uma cirurgia para tratamento de fimose (chamada de postectomia ou circuncisão), em Minas Gerais.
A ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIRURGIA PEDIÁTRICA, reconhecendo que não teve acesso a dados técnicos específicos a respeito do ocorrido, comenta o acontecimento através desta nota técnica, a fim de prestar orientação ao público em geral com relação às cirurgias de postectomia/circuncisão em crianças.
Gostaríamos de sinalizar primeiramente que NÃO EXISTEM cirurgias sem complicações, infelizmente. Ainda que alguns procedimentos apresentem um índice baixo de problemas secundários, eles podem acontecer. No caso de circuncisões, o índice é próximo de 1% (predominam complicações menos graves, mas a complicação citada nas reportagens não é, de forma nenhuma, inédita – veja, por exemplo, Manentsa et al 2019; Giovanny et al 2018; van der Merwe et al 2017, Appiah et al 2016, Ince et al 2016, Pippi-Salle et al 2013). A apresentação de problemas médicos na mídia de forma sensacionalista, sugerindo que tragédias foram causadas por erros médicos evitáveis não é útil à sociedade. Criar um clima de desconfiança contra tratamentos médicos em geral, menos ainda.
No caso de cirurgias em crianças pequenas, NÃO EXISTEM PROCEDIMENTOS FÁCEIS, “SIMPLES”. É necessário um nível sofisticado de treinamento para tratar tecidos delicados e órgãos pequenos e a fisiologia da criança é especial: crianças não são adultos pequenos, são pacientes com requisitos específicos do ponto de vista clínico, cirúrgico e anestésico.
Conforme a DECLARAÇÃO DA CIRURGIA PEDIÁTRICA (World Federation of Pediatric Surgeons – WOFAPS, 2001), TODA CRIANÇA QUE APRESENTA UMA DOENÇA TEM O DIREITO DE SER TRATADA EM AMBIENTE ADEQUADO, POR UM ESPECIALISTA EM PEDIATRIA OU CIRURGIA PEDIÁTRICA. Isto, é claro, não impede que complicações aconteçam, mas, temos certeza, diminui sua incidência e garante que se complicações acontecerem, também elas sejam tratadas da maneira ideal, do ponto de vista técnico e do ponto de vista da abordagem socio-familiar do problema.
Lamentamos profundamente, é claro, o acontecido com este paciente e não pretendemos, de forma alguma, imputar culpa aos colegas. Seríamos irresponsáveis e levianos se o fizéssemos, não tendo dados técnicos e reconhecendo que complicações são uma parte lamentável mas intrínseca ao trabalho do médico e podem ser minoradas, mas não evitadas por completo. Nosso objetivo, enquanto ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIRURGIA PEDIÁTRICA, é reafirmar, como tantas vezes já o fizemos, que o tratamento cirúrgico da criança deve, idealmente, ser feito por profissionais especificamente treinados para isso: os cirurgiões pediátricos.
DIRETORIA DA CIPE – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIRURGIA PEDIÁTRICA