fonte: Saúde Business
Um relatório publicado em 2018 pelo The Lancet Global Health Commission sobre sistemas de saúde de alta qualidade constatou que 5,7 milhões de pessoas morrem em países de baixa e média renda todos os anos por cuidados de saúde de baixa qualidade em comparação com os 2,9 milhões que morrem por falta de acesso aos cuidados. Em outras palavras, em muitos países, uma pessoa tem uma chance maior de morrer por receber atendimento de baixa qualidade do que de ficar totalmente sem atendimento.
O apelo de se pagar a assistência à saúde pela qualidade e não pelo volume é poderoso e apropriado, mas como conseguir essa mudança continua sendo um desafio global. Apesar do interesse mundial, evidências de como implementar com sucesso modelos que prometem melhorar a qualidade do cuidado, como o de Accountable Care Organizations (ACOs), se mantêm limitadas.
Nos EUA, o Centers for Medicare and Medicaid Services (CMS) anunciou em setembro de 2019 que as ACOs geraram 739,4 milhões de dólares de economia líquida em 2018. “As ACOs têm economizado dinheiro desde o início”, disse Rob Mechanic, diretor executivo do Institute for Accountable Care. O diretor acredita que as ACOs tendem a ter um desempenho melhor quanto mais tempo estiverem no programa. “É uma indicação de que o CMS deve continuar investindo nesse modelo, porque foi o mais forte dos vários modelos de pagamento que eles testaram”, afirmou a Mechanic. Até 2017, as impressões americanas eram de que uma ampla gama de ACOs poderiam melhorar a qualidade da assistência, mas menos ACOs combinaram com êxito a melhoria da qualidade com reduções significativas nas tendências de gastos.
Pesquisadores da Duke University, Imperial College London e da Primary Care Corporation em Doha, Qatar, identificaram elementos-chave da estrutura das ACOs e aplicaram esses princípios a pilotos no Nepal, na Alemanha e na Holanda, de acordo com um estudo publicado na Health Affairs. Mesmo abordando diferentes problemas na saúde, os pilotos ressaltaram a importância do compartilhamento de dados entre os players, para uma coordenação de cuidado sustentável, além de forte alinhamento entre os mesmos. Reforçou ainda que o cuidado centralizado no paciente precisa da mudança de local dos serviços: de hospitais para a comunidade.
No Reino Unido, o modelo de ACO usa outro nome: Integrated Care Systems (ICS) e tem sido utilizado pelo NHS desde 2016. A diferença para outros modelos é que eles têm trabalhado em conjunto com grupos que não de saúde, como instituições de caridade locais e grupos comunitários, ajudando as pessoas a terem vidas mais saudáveis por mais tempo a partir do enfrentamento de determinantes sociais. Em junho de 2019, outras três áreas foram designadas como ICS, o que significa que mais de um terço da população do país está agora coberto por um. Atualmente, são 14 pelo país.
No Brasil, a Saúde Suplementar deu seus primeiros passos nesta direção. A ASSEFAZ (Fundação Assistencial dos Servidores do Ministério da Fazenda) juntou empresas independentes de atenção primária, secundária, terciária e um programa focado em prevenção para formar uma das primeiras ACOs brasileiras. Já a Hospital Care, holding administradora de serviços de saúde, reuniu inicialmente prestadores de serviços de sua rede própria com o mesmo intuito. Este novo modelo de remuneração está em prática no Hospital Vera Cruz, de Campinas (SP), desenvolvendo a estratégia em cima do plano de saúde próprio Vera Cruz, que atualmente possui 30 mil usuários na região.
O modelo de remuneração é o instrumento para uma mudança no modelo assistencial. De acordo com a ANS estamos vivendo uma transição pois já temos medidas de qualidade da assistência disponíveis e já estamos realizando melhorias no processo de cuidado na Saúde Suplementar. O futuro se dará com o aprimoramento da qualidade do sistema, utilização de medidas por desfechos clínicos e proposições de cuidado coordenado como os das ACOs.
O modelo da ACO é altamente adaptável às circunstâncias locais e pode acomodar provedores e financiamentos, tornando-o apropriado para países com mercados mistos de assistência médica e para aqueles em que pagamento e provisão são divididos entre os setores público e privado.