fonte: Folha de SP
Recepções lotadas, senhas e pacientes à espera no corredor. Um cenário costumeiro ao SUS já se replica, ainda que em menor escala, também em laboratórios particulares.
A Folha visitou 12 laboratórios de grandes redes -como A+, Lavoisier, Delboni, SalomãoZoppi e Centro de Diagnóstico do Brasil- durante manhãs da semana passada e encontrou salas de espera cheias em todos eles.
Pacientes relatam dificuldades em agendar exames e longa espera na data marcada para conseguir atendimento. “Levo uma hora só para abrir a ficha. Até fazer os exames, já esperei três horas”, diz a nutricionista Valquíria Turoni, 42, que busca no diagnóstico uma resposta para as dores na coluna.
A demora atinge mesmo exames mais simples. Era 6h50 de terça quando Ana Paula Souza chegou a um laboratório da A+ para um exame de sangue. Conseguiu sair de lá somente cerca de duas horas depois. “Fui mais cedo para não atrasar. Mas só consegui sair às 8h40”, afirma.
Laboratórios confirmam o aumento na demanda [leia na pág. C3]. E apontam fatores.
O primeiro é o crescimento no número de usuários de planos de saúde no país. Em cinco anos, esse contingente passou de 43 milhões para 50 milhões de pessoas, segundo a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).
Hoje, 26,1% da população brasileira tem planos de assistência médica. Em São Paulo, a proporção é ainda maior: 45,4% no Estado e 60,8% na capital.
Em média, médicos pedem três vezes mais exames de pacientes que têm planos de saúde que aos do setor público, explica Gustavo Campana, da SBPC/ML (Sociedade Brasileira de Patologia Clínica), que reúne especialistas em medicina laboratorial.
A mudança na tecnologia, que trouxe maior oferta de exames disponíveis, o envelhecimento populacional e um aumento no número de doenças crônicas, como diabetes, também são outros motivos que explicam esse cenário, aponta Campana.
AGENDA PARA 2015
Antes da espera no laboratório, a maioria dos pacientes encara outro desafio: o agendamento.
A ANS recomenda que o prazo máximo de espera não ultrapasse três dias para exames mais simples como hemogramas, ou dez dias, para exames como mamografias e eletrocardiograma.
Para procedimentos de alta complexidade, como ressonância magnética, o prazo recomendado é de até 21 dias.
A Folha ligou para os laboratórios sem se identificar e encontrou casos de demora de mais de três meses.
Uma colposcopia, que pode detectar câncer de colo de útero, só está disponível para meados de dezembro. Em outro laboratório: 15 de janeiro.
Para driblar a espera, há quem encare unidades longe de casa. Na última quarta (29), o assistente financeiro Rodrigo Oliveira, 21, saiu às 5h20 de Santo André para estar às 7h em uma unidade no Tatuapé, em São Paulo. Repetiria o trajeto na sexta. Perto de onde mora, só havia vaga quase no fim de novembro. “Em três dias, resolvo tudo. Melhor que esperar três semanas.”