fonte: Folha de SP
foto: Fabiano Maia/Divulgação Prefeitura de Jundiaí
Ir ao médico pode às vezes dar friozinho na barriga —é uma situação diferente e não dá muito para saber o que vai acontecer lá. Mas, e se der para sair do consultório com um papel que, ao contrário da usual lista de remédios, mais parece uma revistinha de colorir?
A estudante Maria Luísa Fonseca Felipe, de 7 anos, recebeu uma guia médica como essas. Guias são os papéis em que o médico anota suas recomendações. Ela passou em consulta em um posto de saúde de Jundiaí, no interior de São Paulo, e se animou em largar um pouco o tablet para fazer mais atividades divertidas ao ar livre.
Os médicos da rede pública da cidade queriam uma forma de mostrar a importância de nos movimentarmos para manter a saúde em dia. Para isso, passaram a usar uma linguagem que todo mundo pode entender, com palavras e conselhos que condizem com a idade dos pacientes.
O receituário divertido também é válido para anotar medicações. Em uma versão especial, que os adultos chamam de “controlada”, aparecem os nomes de remédios mais “fortes” que possam ser necessários à saúde naquele momento, como antibióticos, por exemplo.
No papel há dicas para estimular uma vida mais saudável: brincar ao ar livre, andar a pé, praticar esportes, comer frutas, verduras e legumes, evitar ficar muito tempo grudado nas telas (celular, tablets e TV), além de ler, cantar, conversar e interagir em família.
“Eu gosto de andar de bicicleta com a minha mãe e passear com a minha cachorrinha Pérola Bertoni. Nas telas, fico no máximo duas horas por dia”, diz Maria Luísa que, durante a consulta, “dedurou” que a mãe passa muitas horas no celular e na TV.
Maria Luísa gosta de balé e não imaginava que ele conta, sim, como exercício físico —quando questionada pela médica se praticava algum esporte, ela não abriu a boca.
A médica, então, logo explicou que fazer balé é ótimo, e que Maria Luísa inclusive poderia praticar com sua mãe, vendo vídeos no Youtube.
No dia da consulta, Maria Luísa estava gripada. Ela sentiu alívio quando a médica não receitou nenhum remédio para tomar, porque acha o gosto ruim, e levou seu novo receituário para casa. Chegando lá, o grudou com ímã na geladeira, para toda a família se lembrar de brincar.
A médica da família, Danieli Moreira, da Clínica da Família Novo Horizonte, acha que, quando as crianças pegam um receituário feito pensando nelas, entendem aquilo como “pertencimento”, que é quando a gente se sente fazendo parte de alguma coisa.
“Com essa guia divertida, a consulta não assusta mais. As crianças prestam atenção às orientações médicas e mudam seus hábitos. E cobram seus pais para fazerem o mesmo”, diz a médica. “É uma forma lúdica de o médico plantar uma sementinha para a criança se tornar um adulto saudável.”
O estudante Gabriel Oliveira Costa, de 8 anos, gosta de plantar feijões e também curtiu essa guia médica diferente. “É muito top. Curti as dicas para brincar ao ar livre e para comer frutas e legumes”, conta.
Ele já entrou no clima mais saudável sugerido pela doutora e se lembra do piquenique que fez com a família no fim de semana. “A regra era não mexer no celular.”