fonte: O Globo

Um padrão distinto na mudança do comprimento dos telômeros do sangue, a “ponta” do cromossomo que protege o DNA de mutações, pode prever câncer muitos anos antes do diagnóstico real, de acordo com um novo estudo da Northwestern Medicine, em colaboração com a Universidade de Harvard. O documento foi publicado, nesta quinta-feira, em “EBioMedicine”, um novo periódico da Elsevier em colaboração com “The Lancet” e “Cell Press”.

O padrão – uma redução rápida seguida de uma estabilização de três ou quatro anos antes do câncer ser diagnosticado – poderia finalmente levar a um novo biomarcador que seria capaz de prever o início do desenvolvimento do tumor apenas com um exame de sangue. Esssa é a primeira trajetória relatada de mudanças dos telômeros ao longo dos anos em pessoas desenvolvendo câncer.

Os cientistas vêm tentando entender como telômeros das células sanguíneas, considerados um marcador de idade biológica, são afetados nas pessoas que estão desenvolvendo câncer. Mas os resultados têm sido inconsistentes: alguns estudos acham que eles são mais curtos, alguns mais longos e alguns mostram não haver correlação.

No novo estudo, os cientistas observaram diversas medidas de telômeros ao longo de um período de 13 anos em 792 pessoas, 135 das quais foram eventualmente diagnosticadas com diferentes tipos de câncer, incluindo o de próstata, pele, pulmão, leucemia e outros.

Inicialmente, os cientistas descobriram que os telômeros envelheciam muito mais rápido (indicado por uma perda mais rápida de comprimento) em indivíduos que estavam desenvolvendo, mas ainda não tinham o câncer diagnosticado. Telômeros em pessoas com a doença em fase de desenvolvimento pareciam 15 anos mais velhos cronologicamente do que aquelas pessoas que não estavam desenvolvendo a doença.

Mas, então, os cientistas descobriram que o processo de envelhecimento acelerado parou três a quatro anos antes do diagnóstico de câncer.

“Entender esse padrão de crescimento dos telômeros pode ajudar a criar um biomarcador preditivo para o câncer”, disse Lifang Hou, o principal autor do estudo e professor de medicina preventiva na Escola de Medicina na Universidade Northwestern Feinberg. “Porque nós vimos uma forte relação no padrão através de uma ampla variedade de cânceres”.

Acredita-se que este novo estudo seja o primeiro a observar o comprimento dos telômeros em mais de um ponto no tempo antes do diagnóstico. Isso é significativo, porque o tratamento do câncer pode encurtar telômeros. Depois do tratamento, é incerto se o seu comprimento foi afetada pelo câncer ou o tratamento.

“Isso provavelmente explica por que os estudos anteriores têm sido tão inconsistentes”, disse Hou. “Nós vimos o ponto de inflexão em que o acelerado encurtamento do telômero se estabiliza.”

Os telômeros encurtam cada vez que uma célula se divide. Quanto mais velho você é, mais vezes cada célula do seu corpo se dividiu, e isso quer dizer que seus telômeros estão mais curtos. Como as células cancerosas se dividem e crescem rapidamente, os cientistas esperavam que a célula ficasse tão curta ao ponto de se autodestruir. Mas isso não é o que acontece, os cientistas descobriram. De alguma forma, o câncer encontra uma maneira de parar esse processo.