fonte: Folha de SP

Um estudo liderado por pesquisadores do A.C.Camargo Cancer Center identificou mutações ligadas ao desenvolvimento do tumor de Wilms, o câncer renal mais frequente em crianças.

O trabalho, que abre caminho para novos métodos de diagnóstico da doença, venceu a categoria Pesquisa em Oncologia do Prêmio Octavio Frias de Oliveira. A cerimônia de entrega será nesta quarta-feira (5), às 19h.

A premiação é iniciativa do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira), em parceria com o Grupo Folha. A láurea leva o nome do publisher da Folha, morto em 2007.

Na categoria Inovação Tecnológica, venceu um estudo que levou ao desenvolvimento de um novo biomarcador para diagnóstico e prognóstico de um subtipo de tumor de mama (triplo-negativo).

O reitor da USP, Marco Antonio Zago, será o premiado na categoria Personalidade em Destaque. Ex-presidente do CNPq, Zago já foi pesquisador e professor na área da hematologia, participando de importantes projetos no país.

Para cada categoria, a premiação é de R$ 16 mil. Integram a comissão julgadora do projeto representantes da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e das academias de medicina e de ciências.

Nesta sexta edição, o prêmio teve recorde de trabalhos inscritos, 60 no total –contra 15 no ano passado.

“A gente começa a ver o aparecimento de trabalhos em que se tem tecnologia de medicamento sendo gerada no país. Para nós, isso é importantíssimo. O Brasil ainda engatinha nessa área”, diz o oncologista Paulo Hoff, diretor do Icesp.

Segundo ele, as indústrias farmacêuticas nacionais ainda têm foco na fabricação de produtos já conhecidos, e não de novas moléculas.

“Temos que mudar isso, gerar mais tecnologia nacional. Mas, para isso, é preciso primeiro gerar conhecimento para depois gerar produtos”, afirma Hoff.

PESQUISAS

A pesquisa vencedora identificou uma mutação frequente em um gene (Drosha), que ainda não tinha sido associado ao tumor de Wilms, câncer que afeta uma em cada 10 mil crianças –a maioria na faixa etária de 2 a 4 anos.

Também apontou o provável impacto de ação da mutação na produção de moléculas de microRNA (que regulam a expressão de genes – um processo fundamental para a formação correta dos órgãos durante a gestação).

Os pesquisadores desenvolvem uma estratégia para achar mutações específicas do tumor em DNA colhido da urina de pacientes. A meta é obter um diagnóstico mais precoce e mais preciso.

“Hoje, o diagnóstico só é possível quando já há uma massa tumoral palpável. A expectativa é conseguirmos meios para identificar o tumor em uma etapa mais inicial. Assim, a intensidade do tratamento poderá ser reduzida”, diz Dirce Maria Carraro, coordenadora do estudo.

O trabalho, segundo ela, também abre perspectivas futuras de desenvolvimento de medicamentos mais eficazes e com menos efeitos colaterais que os atuais.
inovação

A pesquisa premiada no quesito Inovação Tecnológica construiu, por engenharia genética, um fragmento de anticorpo (Fabc4) capaz de diagnosticar o câncer de mama.

“O mais interessante é que o anticorpo que desenvolvemos também apresenta valor prognóstico entre as pacientes triplo negativas, um subtipo molecular de tumor que é extremamente heterogêneo”, explica a coordenadora da pesquisa, a bióloga Thaise Gonçalves de Araújo, professora da Universidade Federal de Uberlândia.

Esse tipo de tumor representa 15% dos casos de câncer de mama. Mulheres sensíveis ao FabC4 apresentaram sobrevida maior em relação as que não reagiram ao anticorpo. Isso, segundo ela, poderá auxiliar na busca por novos métodos de tratamento.

Agora, os pesquisadores estão detalhando as formas de ação do anticorpo, que parece ser capaz de induzir a apoptose –mecanismo de morte programada das células– e frear a multiplicação das células tumorais.

“O anticorpo abre novos caminhos tanto na pesquisa básica como aplicada. Poderá nos auxiliar na compreensão dos mecanismos de sinalização celulares envolvidos na gênese e progressão desses tumores.