fonte: Folha de SP
O HCor (Hospital do Coração), em São Paulo, tem usado uma nova técnica para corrigir, ainda durante a gestação, um defeito congênito que causa o fechamento incompleto da coluna de bebês.
Com um corte de 2,5 cm no útero, os médicos dizem que é possível corrigir a mielomeningocele, também conhecida como espinha bífida, mais precocemente –por volta de 20 semanas de gestação.
A técnica cirúrgica considerada padrão faz um corte um pouco maior, de 4 cm a 5 cm, e numa fase mais adiantada da gravidez. Estudos demonstraram que a cirurgia fetal reduz pela metade os riscos de sequelas em comparação à feita após o bebê nascer. Por outro lado, a operação aumenta as chances de prematuridade.
O tratamento mais precoce faz com que a medula e as raízes nervosas do feto fiquem menos tempo expostas ao líquido amniótico e, por isso, há menos risco de lesões neurológicas, segundo Fábio Peralta, médico responsável pela cirurgia fetal do HCor, que desenvolveu a técnica com o neurocirurgião Antônio de Salles.
Peralta afirma ainda que o corte menor pode trazer benefícios também para a mãe, como menos sangramento e menor risco de ruptura uterina na gestação. “A cirurgia tem demonstrado bons resultados, principalmente em relação ao desenvolvimento das crianças visto até agora”, afirma ele.
As sequelas podem incluir paralisia nas pernas e perda do controle da bexiga. A principal é a hidrocefalia (acúmulo de água no cérebro), que pode requerer um dreno para a retirada do líquido. Cerca de 50 bebês já foram operados com essa técnica no HCor, e por volta de 10% deles precisaram colocar o dreno. Peralta afirma ainda que, até agora, as crianças têm se desenvolvido sem sequelas.
Um dos bebês que teve a espinha bífida operada no hospital é Lara, de cinco meses. Ela passou pela cirurgia quando estava ainda na barriga da mãe, Erika Thomei Magnoli, 37, na 21ª semana de gestação. “Por enquanto ela está se desenvolvendo como uma criança normal, e esperamos que ela continue assim”, diz ela. O parto ocorreu na 33ª semana de gravidez.
RESSALVAS
Precursor da cirurgia fetal para corrigir a mielomeningocele no Brasil, trazendo em 2011 a técnica desenvolvida nos EUA, o professor da Unifesp Antonio Moron faz ressalvas à novidade. “Parabenizo a equipe do HCor pelo esforço em aprimorar a cirurgia, mas não há necessidade de uma incisão um pouco menor do que a que fazemos e operar mais precocemente. Estudos demonstraram que a cirurgia antes das 23 semanas traz mais riscos de ruptura uterina e complicações”, afirma.
O médico diz ainda que, operando mais tardiamente e com corte pouco maior, a taxa de bebês que precisam de dreno é por volta de 8%. “Ainda são necessários estudos comparativos para afirmar que a nova técnica traz mais benefícios do que a cirurgia padrão”, afirma