fonte: CREMERJ
Déficit de insumos e medicamentos, suspensão de serviços, fechamento de leitos, cancelamento de cirurgias e atrasos no pagamento de médicos, residentes e profissionais em geral. Esse foi o cenário que os hospitais universitários do Rio de Janeiro atravessaram no fim de 2015, quando a falta de financiamento dessas instituições atingiu sua fase mais aguda. Ainda hoje, a redução de verbas afeta diretamente o funcionamento dos quatro hospitais universitários do estado – Gaffrée e Guinle (Unirio); Clementino Fraga Filho (UFRJ); Antônio Pedro (UFF) e Pedro Ernesto (Uerj) – que têm buscado alternativas para contornar a crise.
Além de prestarem assistência de média e alta complexidade à população, essas unidades são polos de desenvolvimento de tecnologia e pesquisa e formação de novos médicos e de profissionais de saúde em geral. As principais atribuições de um hospital de ensino são prover treinamento universitário na área de saúde e propiciar atendimento de maior complexidade (nível terciário ou quaternário) para a população.
Em dezembro de 2015, após uma série de ações, a diretoria do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) reuniu-se com o ministro da Saúde, Marcelo Castro, os secretários de Saúde do município e do estado e o representante do Núcleo Estadual do Rio de Janeiro do Ministério de Saúde, com o intuito de discutir a situação das unidades e definir um plano emergencial para garantir o financiamento dos hospitais universitários. Hoje, o Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe) é o que vive uma das mais graves situações. Os médicos residentes não recebem bolsa há dois meses, já as empresas prestadoras de serviço estão sem repasses desde julho de 2015. Por conta disso, o hospital vive um clima de instabilidade, com receio de que serviços como nutrição, limpeza e manutenção sejam suspensos, impossibilitando o atendimento aos pacientes.
O centro cirúrgico do HUPE interrompeu suas atividades suspensas por duas semanas e as internações eletivas permanecem suspensas. “Temos a orientação de internar apenas casos urgentes e mais graves, ainda assim, estamos lutando para que o hospital não feche e os serviços não paralisem totalmente”, esclarece Vitor Alvarenga, residente do HUPE e diretor da Amererj.
Dos 350 leitos que estavam em funcionamento antes da crise, apenas 170 estão abertos. Por conta da falta de repasses estaduais, que causou a redução de atendimentos, o hospital também sofreu com a redução de pagamentos provenientes do município, visto que recebe repasses pelos atendimentos prestados para o Sistema Único de Saúde (SUS). Essa diminuição gerou um déficit de R$ 6 milhões. Para que o hospital volte ao seu funcionamento normal com 350 leitos, é necessário que sejam repassados cerca de 9,5 milhões por mês.
Para o presidente do Cremerj, Pablo Vazquez, “não há crise econômica e política que justifique o subfinanciamento de instituições tão importantes quanto os hospitais universitários”. Ele ressalta que os hospitais têm que estar abertos e em condições adequadas para prestar o atendimento de qualidade a população e serem polos de pesquisa e formação de novos médicos.
O Hospital Universitário Clementino Fraga Filho fechou 70% dos leitos durante a fase mais aguda da crise. “O hospital tem um déficit crônico de verbas porque o valor dos repasses é defasado em comparação aos nossos custos”, relata o diretor do HUCFF Eduardo Côrtes. Ainda que os 260 leitos da unidade sejam reabertos, a quantidade é baixa diante da capacidade da unidade. Os alunos de medicina que ingressam na UFRJ dependem do HUCFF para sua formação.