outubro_rosa_2fonte: Folha de SP

A ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) vai propor um novo modelo de atendimento e cuidados em relação ao câncer para a rede de planos de saúde.

A ideia do projeto, que será lançado na quarta (5) em parceria com entidades na área de oncologia, é que planos e prestadores de serviços –como hospitais e clínicas– adotem ações para corrigir gargalos e passem a organizar em conjunto os caminhos do paciente dentro da rede.

A proposta, em caráter de testes, visa buscar meios para a aceleração do diagnóstico e do tratamento de câncer na rede suplementar, que reúne 48 milhões de usuários.

Hoje, a avaliação é que esse sistema é fragmentado. O usuário fica perdido entre consultas e exames, gastando muito tempo até identificar corretamente um problema e iniciar seu tratamento.

“A maior parte dos gargalos que temos não são de acesso, mas de informação”, afirma a diretora de desenvolvimento setorial da ANS, Martha Oliveira. “Um exemplo é o paciente que faz um exame e não vai buscar, mas o resultado era positivo, ou que faz e não sabe onde levar”, diz.

Para a diretora da agência, o sistema vive um paradoxo, com alto número de exames realizados na rede e, ao mesmo tempo, de pacientes que procuram assistência com diagnóstico tardio.

“Estamos recebendo muitos pacientes com câncer avançado e, por outro lado, tendo muitos exames desnecessários. Estamos fazendo muito e errado”, avalia a diretora. “E a pessoa que não está conseguindo fazer?”

Neste ano, a estimativa do Inca (Instituto Nacional de Câncer) é de 596 mil novos casos de câncer no país.

“O grande problema é que a epidemia de câncer ainda não começou no Brasil. O boom deve ser daqui a 15 anos, porque é uma doença muito ligada ao envelhecimento da população. Se o sistema já está desorganizado, imagina quando o número crescer?”, questiona José Eduardo de Castro, consultor da Fundação do Câncer, instituição que auxilia no projeto.

Apelidada de OncoRede, a iniciativa prevê que laboratórios e clínicas criem um alerta de forma a garantir que resultados críticos cheguem a quem solicitou o exame.

Também será recomendada a adoção de laudos integrados, em que o paciente deixa de receber resultados separados e passa a ter uma só avaliação compartilhada entre vários profissionais.

A ANS irá propor equipes multiprofissionais e grupos de decisão para avaliar os casos.

A proposta inclui ainda a presença de um coordenador de cuidado, profissional para fazer busca ativa de pacientes e direcioná-los dentro da rede. O modelo é semelhante ao já aplicado em países como Inglaterra e Canadá. Também deve haver estímulo à prevenção e diagnóstico precoce.

A adesão dos planos e hospitais será voluntária. As iniciativas serão acompanhadas pela ANS e entidades por um ano. Em seguida, a ideia é estender parte das experiências para todo o setor.

Para que as ações ocorram, operadoras devem testar novas formas de pagamento a quem presta o serviço. A ideia é deixar de pagar só pela quantidade de procedimentos e remunerar também por resultados obtidos e qualidade.

Para Luciana Holtz, do Instituto Oncoguia, que representa pacientes com câncer, a iniciativa é positiva, mas precisa de incentivo e adesão das operadoras para sair do papel.

“Não adianta ter essa proposta se não virar prática para beneficiar os pacientes”, afirma. “Hoje o paciente reclama muito do quanto é jogado de um especialista a outro e o diagnóstico não fecha.”

Para Solange Mendes, presidente da FenaSaúde, que representa operadoras de planos de saúde, o projeto “trata de mudanças de paradigma”, sendo preciso buscar “melhores resultados assistenciais e econômico-financeiros”.

Ela diz ser favorável também à discussão sobre novas formas de pagamento a quem presta serviços aos pacientes. “Esse atual modelo, o fee for service [que paga por serviço prestado], estimula a superutilização dos recursos da medicina e, muitas das vezes, sem a real necessidade clinicamente comprovada.”

Principais pontos do modelo

Novo sistema de atendimento em oncologia nos planos de saúde foi proposto pela ANS e por entidades

Alerta de riscos
Clínicas e laboratórios identificam laudos com resultados críticos e emitem alerta para garantir que eles sejam entregues

Laudo integrado
Paciente tem acesso não mais a resultados de exames separados, mas a um laudo conjunto, o que facilita o diagnóstico

Informações compartilhadas
Sistema de registro permite troca de informações sobre o paciente com ele mesmo e entre profissionais que o atendem

Decisões em conjunto
“Times multiprofissionais” e “grupos de decisão” definem quais linhas de tratamento devem ser adotadas

Coordenador do cuidado
Profissional de saúde (“navegador”) monitora o paciente desde a entrada no sistema de saúde e tem contato direto com ele

Cuidados paliativos
Planos estimulam iniciativas para aliviar sintomas e dão suporte geral ao paciente, em especial a quem não teve resposta aos tratamentos

Criação de indicadores
Modelo deve ser monitorado por indicadores, definidos entre os participantes, como tempo para conclusão do tratamento e satisfação do paciente

Modelos de remuneração
Incentivo a novas formas de remuneração de funcionários pelos planos, com foco nos resultados, e não no volume de procedimentos