fonte: APM
“Infelizmente, os encaminhamentos políticos na Saúde têm sido mais para atender aos interesses eleitorais do que para apresentar soluções para os problemas”
O Programa Mais Médicos foi mantido pelo atual Governo. Criado em 2013 para recuperar os índices de popularidade da ex-presidente Dilma Rousseff e garantir sua reeleição, após enormes protestos de rua, contém, entre outras aberrações, a implantação de um grande número de escolas médicas.
No fim de setembro último, o Ministério da Educação (MEC) anunciou a criação de mais 37 cursos de Medicina, sendo 13 deles no estado de São Paulo, onde o número atual de médicos por mil habitantes é bem mais elevado do que na maioria dos países de primeiro mundo.
O anúncio foi feito às vésperas das eleições, o que mostra o caráter eleitoreiro desta medida, que tem sido defendida insistentemente por diversos prefeitos. Serão mais três mil novos alunos e, em breve, estaremos formando quase 30 mil médicos por ano, prevendo-se que em uma década teremos dobrado o número de profissionais em atividade.
De todas as iniciativas previstas no programa, esta talvez seja a que terá as mais graves consequências para as futuras gerações. Não existem docentes em número suficiente para atender à demanda de formação. Não há também hospitais-escola preparados para o ensino médico.
Esse tipo de estrutura não se cria do dia para a noite como pensam nossos governantes. Se hoje já vemos muitas escolas formando médicos com grave deficiência, no futuro o problema se agravará, colocando a população em sério risco.
Trilhamos um caminho perigosíssimo e, em futuro não tão distante, a sociedade terá que se defrontar com as consequências do excesso de doutores com má qualificação profissional. Os Estados Unidos viveram caos semelhante há 100 anos. Então, uma comissão chefiada por Abraham Flexner elaborou relatório sobre a qualidade das escolas de Medicina americanas, o que resultou no fechamento de várias. Este exemplo deveria ser cuidadosamente analisado por aqueles que hoje decidem sobre esta matéria aqui no Brasil.
Infelizmente, os encaminhamentos políticos nesta área têm sido mais para atender aos interesses eleitorais do que para apresentar soluções para os problemas de saúde da população. Aos prefeitos, interessa um número cada vez maior de médicos. Assim, atendem a seus objetivos imediatos, sem se importar com a qualidade do atendimento.
O jogo de cena serve também como justificativa para a carência de investimentos no setor, pois como todos sabem, o Brasil é um dos países que menos investe em saúde pública no mundo.
De uma forma sutil, a demanda dos cidadãos por melhoria na assistência à saúde, claramente colocada nas manifestações de 2013, foi usada às avessas por marqueteiros da então presidente. Vendeu-se à população que o problema da Saúde era oriundo da falta de médicos e, com isto, possibilitou-se a abertura indiscriminada de escolas, que cobram caro e formam mal.
Esta é apenas uma das inúmeras medidas nocivas aos médicos e ao sistema de saúde adotadas pelo Governo Federal nos últimos anos. Outras são a vinda de profissionais do exterior sem revalidar seus diplomas, colocando em risco os pacientes; a não correção da tabela do SUS; o veto à lei do Ato Médico; e a interferência prejudicial na grade curricular dos cursos de Medicina e na residência médica.
Por esta razão, a APM apoia fortemente a criação da Frente Parlamentar da Medicina, para que possamos ter um canal de interlocução com o Congresso Nacional, buscando defender um atendimento digno à saúde da população.
Dr. Florisval Meinão – Presidente da APM