hospital_bonsucessofonte: O Globo

Sem remédios para todos pacientes do Serviço de Oncologia do Hospital Federal de Bonsucesso, médicos estão sendo obrigados a escolher quem terá chance de tratamento. Isso foi constatado por representantes da Defensoria Pública Federal e do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) durante uma vistoria realizada no último dia 19. Eles produziram um relatório sobre os problemas que encontraram e o enviaram ao Ministério da Saúde e à direção da unidade, dando um prazo de 30 dias para a regularização do atendimento. Caso nada seja feito, os órgãos moverão uma ação civil pública.

De acordo com o relatório, 75% dos pacientes do setor de oncologia tiveram o tratamento interrompido pelo menos uma vez. Médicos do Cremerj e defensores públicos federais afirmaram que faltam dez tipos de medicamentos no estoque. Entre os afetados pelo problema está o aposentado José Carlos Cardoso, de 68 anos, que, esta semana, não conseguiu fazer uma sessão de quimioterapia. Em julho do ano passado, ele foi diagnosticado com câncer de intestino em estágio avançado, com metástase no fígado.

— O tratamento do meu pai precisa continuar para que haja regressão do tumor no fígado. Só depois disso ele poderá ser operado — disse Luciana Ramos, acrescentando que, além de medicamentos quimioterápicos, faltam remédios simples, como o que tratam de enjoo e problemas no estômago.

Um outro problema constatado na vistoria foi o número insuficiente de oncologistas. Conforme o relatório, são apenas sete: cinco estatutários e dois contratados em caráter temporário. Seria necessário, segundo os órgãos, pelo menos o dobro para viabilizar o funcionamento de uma enfermaria para pacientes com câncer. O setor funciona apenas de segunda a sexta-feira e não tem especialistas de plantão.

No dia da vistoria, havia 52 pacientes internados na emergência, 15 deles com câncer. Uma idosa que fazia quimioterapia estava há mais de um mês no setor. Essa situação é considerada gravíssima pelo Cremerj e pela Defensoria Pública Federal, já que pessoas em tratamento oncológico têm a imunidade comprometida e não devem perto de portadores de doenças infectocontagiosas. Mas um quadro ainda pior foi visto no local destinado à administração de medicamentos sintomáticos, onde o tempo de permanência deveria ser inferior a 12 horas. Ali, estavam internados dois pacientes com câncer e uma mulher com suspeita de tuberculose.

IMPROVISO QUE DURA CINCO ANOS

A emergência funciona desde 2011 em três contêineres alugados, que, segundo o defensor público federal Daniel Macedo, já consumiram R$ 17 milhões do hospital. Ele frisou que a construção de uma emergência adequada custaria R$ 14 milhões:

— A unidade recebe R$ 160 milhões por ano. Não há falta de recursos, mas, sim, de gestão.

Em nota, o Hospital Federal de Bonsucesso informou que, este ano, atendeu um número de pacientes com câncer 16% maior que o de todo o ano passado. Esse aumento estaria obrigando a unidade a gastar metade de seu orçamento com medicamentos para o setor de oncologia. O hospital destacou que essa situação foi devidamente informada ao município do Rio, que é o gestor pleno da saúde pública, e ao governo estadual. Por fim, a unidade não reconheceu o percentual de interrupção de quimioterapias — 75% — apontado pelo Cremerj e pela Defensoria Pública Federal e garantiu ter sete dos dez medicamentos que, de acordo com o relatório dos órgãos, estavam em falta.