fonte: Extra
“A maior dor foi voltar para casa só com a malinha dele. Era o primeiro filho do meu marido, meu primeiro menino”, lamentou Valquíria da Conceição Saraiva, de 32 anos. Ela foi internada, no último dia 14, para ter seu primogênito na Clínica São Silvestre, em Nova Cidade, São Gonçalo, mas a criança nunca deixou a unidade. Ela e o marido, Wesley Alves Vieira, de 28, acusam a maternidade de negligência e omissão por demorar a socorrer o seu filho. Depois da denúncia do casal, a Coordenação de Vigilância e Fiscalização em Serviços de Saúde, da Secretaria estadual de Saúde, interditou a central de materiais e esterilização, além de suspender as internações, por “alto risco sanitário”.
Depois de uma semana de dores, a cesariana de Valquíria foi feita na manhã do dia 14. A certidão de nascimento registra a hora: 11h40. Mas, segundo a maternidade, o menino começou a demonstrar problemas respiratórios às 15h.
— Eu só soube disso porque insisti muito para entrar, eles não mostraram meu filho na visita geral — explica Wesley: — Quando vi meu menino com uma máscara de oxigênio me desesperei.
O pai conta que tentou transferir a criança, mas não conseguiu porque dependia da autorização da São Silvestre. A clínica, que não tem convênio com o SUS e cobrou R$ 2 mil pelo parto, tomou a providência que julgou melhor: colocou o pequeno Ryan na fila da rede pública.
— Eu paguei pelo parto. E pagaria para levá-lo a outro hospital. Mas eles não aceitaram nosso desejo. Para não pagar transferência e UTI neonatal, eles deixaram meu filho morrer — disse Wesley.
A certidão de óbito indica que o bebê morreu às 2h, 15 horas após o nascimento, com insuficiência respiratória e cianose (pouca oxigenação do sangue). A vaga no SUS foi disponibilizada, segundo a clínica, à 1h30, mas a ambulância só chegou às 2h07. Tarde demais.
Convênio com SUS cancelado
Não é a primeira vez que a Clínica São Silvestre se envolve em problemas. O hospital aparece como réu em 26 processos desde 2006. Os pais do bebê Ryan ampliarão o número. A clínica se defende, dizendo que a transferência do bebê seria cara demais.
— O parto é feito a preço popular. Custa cerca de R$ 2 mil… Não há como arcar com esse custo. A conta não fecha — disse o advogado Elmano Magalhães, que chegou a dizer que a mãe tem histórico de uma filha com deficiência: — A mãe tem esse histórico, e o bebê teve cardiopatia.
O representante da clínica, no entanto, não explicou por que o estabelecimento, que não tem UTI neonatal e nem muitos recursos, decidiu fazer o parto, sabendo dessa questão hereditária.
Agora, os responsáveis pela clínica, que faz 500 partos por mês, pedem a ajuda da prefeitura para reativar a central de esterilização.
— É uma clínica particular, que não é conveniada ao SUS. Não posso esterilizar o material deles — disse o secretário municipal de Saúde, Dimas Gadelha, garantindo que a rede tem condições de absorver a demanda.
O convênio da unidade com o SUS foi rompido há oito meses, depois de recomendação do Ministério Público federal, que apontou problemas de higiene no local.