fonte: editorial Folha de SP
No que já se configura como tradição, foram mais uma vez desalentadores os resultados do exame de proficiência aplicado aos estudantes que se formaram nas faculdades de medicina do Estado de São Paulo.
Dentre as crônicas mazelas da saúde brasileira, a má-formação dos médicos, por certo, é das mais graves. O despreparo desses profissionais, por óbvio, pode acarretar prejuízos irreparáveis.
Prova anual realizada pelo Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) desde 2005 ilustra bem o grau das carências nesse setor. Dos 2.677 futuros profissionais submetidos ao teste no ano passado, mais da metade (56,4%) foi reprovada.
O fraco desempenho, infelizmente, está longe de ser exceção; nos últimos dez anos, o índice de reprovação superou os 50% em sete ocasiões –o conselho exige o mínimo de 60% de acerto.
Obstetrícia, pediatria e epidemiologia —três das áreas da medicina com maior demanda por parte da população— concentraram as piores notas. Os egressos das faculdades paulistas também demonstraram desconhecer procedimentos básicos da profissão.
Os dados indicam, por exemplo, que 80% não souberam interpretar uma radiografia, e 70% não acertaram a conduta adequada em caso de paciente com hipertensão.
Fica evidente o padrão pífio, sem sinais de evolução, dos cursos de medicina no Estado. Na comparação entre 2015 e 2016, a reprovação na rede pública saltou de 26,4% para 37,8%. Nos cursos privados, que concentram a maioria dos alunos, passou de 58,8% para 66,3%.
Diante desse cenário, seria lógico condicionar o registro profissional a um desempenho mínimo na avaliação. A legislação brasileira, todavia, não estabelece critérios de avaliação para o ingresso na carreira médica, tal como ocorre no direito.
Essa brecha permitiu que o exame do Cremesp, após contestação judicial por parte de segmento privado do ensino superior, deixasse de ser obrigatório em 2014 —mesmo antes, bastava ao aluno participar da prova para obter o diploma, qualquer que fosse a nota obtida.
Em vista da evidente relevância social desses profissionais, faz-se necessária a aprovação, pelo Congresso, de um exame nacional de habilitação para a medicina.
Tal medida seria poderoso estímulo ao aperfeiçoamento da formação acadêmica —cujas deficiências, certamente, não serão menores no resto do país.