fonte: Extra

Alice tem apenas um mês de vida e sofre com pneumonia no colo da mãe, Márcia Gomes, de 32 anos, à espera de um pediatra na UPA Tijuca. Foram sete horas até ser vista por um especialista. O sentimento na sala de espera é de que nunca houve tão poucos médicos na unidade — o que é confirmado pelos números. Um levantamento feito pelo EXTRA mostra que a rede perdeu 27% dos profissionais na comparação da escala de plantão entre 25 e 31 de janeiro de 2016 com o mesmo período de 2017.

— Esperei por quase oito horas, e ainda querem me encaminhar para um hospital em Saracuruna — indignou-se Márcia.

Os números do EXTRA levam em consideração 23 UPAs geridas pelo estado que disponibilizaram as escalas de plantão no site da Secretaria estadual de Saúde (SES). No período consultado, 2.514 médicos estiveram de plantão nas unidades. Exatamente um ano depois, o número caiu para 1.813. O ano de crise, segundo os médicos, explica a debandada. Um profissional que trabalhou nas UPAs do estado conta que, em 2016, recebeu o salário atrasado em todos os meses do ano. No fim, a Organização Social responsável pelo local abriu um processo de demissão voluntário, aderido por ele.

— A gente viu o número de médicos caindo pouco a pouco. Foi um desespero. É claro que isso afeta o atendimento — afirmou o profissional.

A SES informou que a quantidade de equipes para o atendimento das UPAs da rede estadual respeita às especificações do Ministério da Saúde. A pasta afirma que, desde o começo do ano passado, conseguiu enxugar R$ 1,3 bilhão em contratos ou municipalização de hospitais, mas que a economia não tem relação com a diminuição de médicos.

Na análise de um mesmo período, número de médicos caiu de 2.514 para 1.813

‘Fico esperando horas até ser consultada’

— A situação nas UPAs piora a cada dia. Sempre que preciso de atendimento, fico esperando horas até ser consultada. E isso quando tem médico. Geralmente, é um clínico geral para atender todos os pacientes, independentemente do problema de saúde. A sala de espera está lotada. A médica está escrevendo tudo a mão, pois nem a impressora funciona. É um descaso, é lamentável — conta Andreia de Souza, de 46 anos, paciente na UPA Tijuca.

Queda chega a 54%

Há casos em que a queda no número de médicos de plantão chegou a 54%. Foi na UPA Nova Iguaçu II, no bairro Botafogo. Lá, a copeira Andreia Macedo, de 33 anos, aguardava atendimento depois de passar por outras três unidades de saúde geridas pela prefeitura da cidade:

— A saúde está péssima. Meu marido está desempregado, não posso pagar um plano. Minha filha de 18 anos está com a garganta inflamada e não consigo atendimento.

De 109 médicos que atenderam a unidade no período pesquisado, em 2016, o número caiu para 50 em 2017.

A UPA Tijuca foi a segunda mais prejudica. Ela teve uma queda de 47%, seguida da unidade de Campo Grande II (Avenida Cesário de Melo), que teve 44% menos médicos.