fonte: O Globo
Um subgrupo de pacientes com osteossarcoma – um tipo de câncer nos ossos – poderia se beneficiar de uma droga já existente, sugerem cientistas do Wellcome Trust Sanger Institute e seus colaboradores na University College London e no Royal National Orthopaedic Hospital NHS Trust, todos no Reino Unido. No maior estudo de sequenciamento genético do osteossarcoma já feito até agora, os cientistas descobriram que 10% dos pacientes com uma mutação genética em um gene de sinalização do fator de crescimento podem ser tratados com remédios conhecidos como inibidores de IGF1R.
Os resultados, publicados nesta sexta-feira no periódico “Nature Communications” sugerem uma reavaliação do uso de inibidores de IGF1R no subconjunto de pacientes com osteossarcoma que provavelmente responderão com base em seu perfil genético.
O osteossarcoma é a forma mais comum de câncer primário nos ossos em crianças e jovens adultos, geralmente afetando pessoas de 10 a 24 anos de idade. Cerca de 160 novos pacientes são diagnosticados com osteossarcoma no Reino Unido a cada ano, dos quais cerca de um terço não podem ser curados.
O tratamento atual para o osteossarcoma é a quimioterapia seguida por cirurgia, em que os tumores ósseos são removidos. Não surge um novo tratamento para o osteossarcoma em quase 40 anos, apesar da extensa pesquisa.
No estudo, cientistas analisaram o genoma de 112 tumores de crianças e adultos – o dobro do número de tumores estudados anteriormente. Em 10% dos casos, a equipe descobriu mutações em genes de sinalização de fator de crescimento (IGF) similares à insulina.
A sinalização do IGF desempenha um papel importante no crescimento e no desenvolvimento dos ossos durante a puberdade. Os pesquisadores acreditam que a sinalização do IGF também está implicada no crescimento incontrolável dos ossos que é característico do osteossarcoma.
Os genes de sinalização de IGF são alvo de drogas existentes conhecidas como inibidores de IGF1R. Ensaios clínicos anteriores destes medicamentos como tratamento para o osteossarcoma produziram resultados mistos, embora pacientes ocasionalmente tenham respondido ao tratamento. Apesar disso, os inibidores de IGF1R não foram testados novamente no osteossarcoma, já que não estava claro quem se beneficiaria com o tratamento.
Sam Behjati, primeiro autor do estudo e pesquisador do Wellcome Trust Sanger Institute e da Universidade de Cambridge, disse:
– O osteossarcoma é difícil de tratar. Apesar de pesquisas extensas nos últimos 40 anos, não foram encontradas novas opções de tratamento. Neste estudo, revelamos um claro alvo biológico para o osteossarcoma que pode ser alcançado com drogas existentes.
No estudo, os cientistas procuraram mutações nos tumores para entender o mecanismo do desenvolvimento do osteossarcoma. A informação genética revelou um processo específico para rearranjar os cromossomos que resulta em várias mutações desenvolvedoras do câncer ao mesmo tempo.
A professora Adrienne Flanagan, autora principal do estudo, pesquisadora do Royal National Orthopaedic Hospital NHS Trust e da University College London Cancer Institute, destacou:
– Ao sequenciar todo o genoma dos tumores, desvendamos o mecanismo por trás do osteossarcoma pela primeira vez. Descobrimos um novo processo em que o cromossomo é quebrado, multiplicado e rearranjado para gerar múltiplas mutações de câncer ao mesmo tempo. Acreditamos que é por isso que vemos tumores de osteossarcoma muito semelhantes em crianças e adultos que não são resultado do envelhecimento.
Peter Campbell, autor principal do estudo e pesquisador do Instituto Wellcome Trust Sanger, finalizou:
– Atualmente, não há novos tratamentos para o osteossarcoma no horizonte. O sequenciamento genético forneceu a evidência necessária para revisar os ensaios clínicos de inibidores de IGF1R para o subconjunto de pacientes que responderam a eles no passado. As mutações dos tumores dos pacientes podem permitir aos médicos prever quem irá ou não responder a esses medicamentos, resultando em ensaios clínicos mais eficientes. As drogas podem ser eficientes para 10% dos pacientes com osteossarcoma.