fonte: O Globo
O diagnóstico precoce é crucial para o tratamento do câncer, mas a detecção de tumores em estágios iniciais não é tarefa simples. Muitos nem possuem testes específicos e só são descobertos após o surgimento de sintomas, quando pode ser tarde demais para o sucesso do tratamento. Mas esta realidade pode estar perto do fim. Cientistas da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, Maryland, desenvolveram um simples exame de sangue capaz de identificar os níveis de proteínas de oito tipos de câncer e a presença de mutações genéticas indicativas de tumores no DNA.
— Mutações no DNA podem ser marcadores altamente específicos para o câncer. Para capitalizar esta especificidade, nós desenvolvemos um pequeno, mas robusto exame que pode detectar ao menos uma mutação na vasta maioria dos cânceres — explicou Joshua Cohen, autor principal do estudo publicado na edição desta sexta-feira da revista “Science”. — De fato, manter o painel de mutações pequeno é essencial para minimizar os falsos positivos e manter a testagem acessível.
Inicialmente, os cientistas exploraram centenas de genes e 40 proteínas marcadoras até chegarem a segmentos de 16 genes e oito proteínas. Os primeiros resultados são animadores. No grupo de controle com 812 pessoas sadias, o teste apontou apenas sete falsos positivos.
— Isso é essencial porque falsos positivos podem sujeitar os pacientes a testes e procedimentos invasivos desnecessários para confirmar a presença do câncer — apontou Kanneth Kinzler, professor de oncologia na Johns Hopkins.
O exame também foi testado em 1.005 pacientes com câncer não metastático, entre os estágios I e III, de ovário, fígado, estômago, pâncreas, esôfago, cólon, pulmão ou mama. Em média, a sensibilidade foi de 70%, variando entre o câncer de ovário, com 98% de detecção, e o câncer de mama, com 33%. Para cinco tipos que não possuem testes de detecção — ovário, fígado, estômago, esôfago e pâncreas — a sensibilidade variou entre 69% e 98%.
— A novidade do nosso método de classificação é que ele combina a probabilidade de observação de várias mutações no DNA junto com os níveis de proteínas para dar o resultado final — explicou Cristian Tomasetti, professor de bioestatística, que desenvolveu o algoritmo. — Outro novo aspecto da nossa abordagem é que ela usa aprendizado de máquina para que o teste determine com precisão a localização do tumor em 83% dos pacientes.
Para determinar os biomarcadores a serem detectados, a equipe de pesquisadores coletou dados de mais de três décadas de pesquisas genéticas sobre o câncer mantidos tanto na Johns Hopkins, como em outros centros de pesquisas. Batizado como CancerSEEK, o novo procedimento tem potencial para entrar na lista de exames de rotina, mas, para isso, o custo deve ser menor do que testes existentes para tipos específicos de câncer, como a colonoscopia. A previsão é que ele custe menos de US$ 500.
— Este teste representa mais um passo na mudança do foco das pesquisas em câncer, do estágio avançado para o estágio inicial da doença, que eu acredito ser crucial para reduzir as mortes por câncer no longo prazo — disse Bert Vogelstein, codiretor do Centro Ludwig.
— A detecção precoce permite muitas formas de melhorar os resultados para os pacientes. Idealmente, os cânceres deveriam ser detectados cedo o suficiente para serem curados apenas com cirurgia — opinou Anne Marie Lennon, professora de cirurgia e radiologia na universidade. — Mas até mesmo os cânceres que não são curados apenas cirurgicamente respondem melhor às terapias quando estão em estágio menos avançado.