fonte: O Globo
por Miriam Leitão
Há muito tempo os planos de saúde são campeões de queixa. Mas de queixa aos mecanismos de defesa do consumidor, que não têm poder. Quem tem poder é a ANS, que é quem decide. E ela tem um viés claramente pró-plano de saúde. Ela não se coloca como mediadora de conflitos entre os clientes e as empresas da área.
Nos últimos anos, os planos de saúde quiseram eliminar os planos de pessoa física. Porque eles preferem os coletivos, das empresas, porque acham que isso dilui o risco deles. Os jornais estão trazendo dados de que os reajustes dos planos são muito maiores do que a inflação e do que a inflação médica. As empresas argumentam que é a medicina que está ficando mais cara, há novos equipamentos e procedimentos. Ela vai se sofisticando, mas também ficando mais cara. Por outro lado, a pessoa pagou a vida inteira e quando precisa ela passa a ter dificuldade de aprovação dos procedimentos. Quando ela vai ficando mais velha, ela vai sendo expulsa dos planos.
Todo mundo tem uma história triste para contar, seja de si próprio ou de algum familiar ou conhecido. Eu mesma, há alguns anos, fui contratar o mais caro que tinha. Paguei dois anos sem usar. Um dia, pedi para fazer um procedimento simples que o médico pediu. Uma mamografia digital. Eles disseram que o meu plano não cobria, só a analógica. Eu tive que escrever uma carta para o presidente do plano, ele jamais me respondeu. E eu saí do plano. É isso que eles querem, dependendo da sua idade.
A ANS está dizendo que as novas regras vão valer apenas para os novos planos. Sabe o que vai acontecer? Os clientes serão constrangidos a sair dos seus planos e a fazer outros com as novas regras. Eles vão usar o seu poder econômico.
Os planos de saúde argumentam que muita gente saiu por causa do desemprego e que estão perdendo receita. O problema do plano de saúde é o conjunto. A cada dia surge uma nova regra, que é sempre beneficiária às empresas do setor. E a ANS tem um viés pró-plano.
O Brasil não tem um órgão que realmente fiscalize os planos e que ouça o que os consumidores têm a dizer.