fonte: Folha de SP
“Novas vacinas causam autismo e os governos sabem.” “Usar celular no escuro causa maculopatia (câncer no olho).” “Só água com vinagre pode matar bactéria presente no feijão.”
O que há em comum entre essas três frases, compartilhadas em correntes no WhatsApp e em outras redes sociais? É o Ministério da Saúde quem adverte: são informações falsas.
Ao completar um mês de funcionamento de um novo serviço para receber e verificar informações de saúde por meio do aplicativo de mensagem, a pasta afirma ter identificado 416 fake news —o equivalente a 14 por dia.
São correntes, textos disfarçados de notícias, imagens retiradas de contexto e áudios de supostos especialistas.
“A diferença é que, na saúde, a informação equivocada pode ter consequências graves”, alerta Renato Strauss, chefe da assessoria de imprensa e informação da pasta e à frente do grupo responsável pela checagem. “Uma pessoa que adere a um tratamento dito inovador pode agravar sua doença. Quem deixa de se vacinar pode ficar doente e chegar à morte”, afirma.
Segundo ele, além do serviço no Whatsapp, chamado de “Saúde sem fake news”, a pasta já identificou desde março outros 395 focos de informações falsas em redes sociais abertas, como Twitter e Facebook.
O controle é feito por meio de um monitoramento diário em mais de 7.000 menções e palavras-chave.
Vacinas, mitos sobre alimentação e sobre medicamentos são os alvos mais comuns de notícias falsas em saúde, aponta balanço da pasta. Dos 395 focos identificados nas redes, 89% eram sobre vacinas.
Já no serviço via WhatsApp, as vacinas responderam por 91 das 416 informações falsas repassadas à pasta no último mês. Outras 153 envolviam supostas “denúncias” ligadas a alimentação ou crenças de benefícios exagerados. Em 27 casos, o foco eram medicamentos “milagrosos”.
O governo tem redobrado as medidas para tentar evitar a propagação de fake news na área. Desde março, uma equipe de cinco pessoas se dedica exclusivamente a essa análise.
Agora, o ministério avalia criar novas ferramentas, como campanhas específicas em torno de alguns temas e listas de transmissão para que usuários cadastrados recebam alertas sobre informações já “desmascaradas”.
Ao contrário do que ocorria no passado, a maior parte das informações falsas recebidas pela pasta hoje não vem de sites, mas de correntes e informações em redes sociais, em que o contato com pessoas próximas e a agilidade no compartilhamento acaba por legitimar as informações.
“É fácil ver pelo grupo da família. Quem dissemina é uma pessoa que você conhece. É uma cadeia de confiança informal que acaba disseminando essa informação”, diz o assessor Strauss.
Segundo ele, uma das dicas para verificar se a informação é falsa é ver a data da notícia: a maioria se repete. “As fake news são cíclicas. A informação falsa de que a vacina causa autismo, por exemplo, de tempos em tempos aparece. As próprias imagens são as mesmas, de ano em ano.”
Ele lembra que a primeira vez que a pasta criou um grupo de controle de fake news ocorreu em 2008, quando sites passaram a vincular a campanha de vacinação contra a rubéola a uma tentativa de esterilização das mulheres. A situação levou o governo a criar força-tarefa para esclarecer.
Em abril, ganhou força em grupos do WhatsApp um áudio com voz feminina que dizia que a OMS (Organização Mundial de Saúde) não divulgava mortes em Goiás pelo vírus “H2N3” para “não alarmar a população”. O vírus, porém, nem sequer existe no Brasil —nem em nenhum lugar do mundo. A informação foi uma das que ganharam um selo “O Ministério da Saúde adverte: isso é fake news”.
Recentemente, um possível aumento na propagação de fake news tem sido investigado como um dos motivos para a queda na vacinação de crianças, que atingiu em 2017 o menor índice em 16 anos.
“Ainda vamos fazer um estudo sobre os motivos da não vacinação. Mas temos avaliação de que as fake news podem estar sim colaborando para isso”, diz a coordenadora do Programa Nacional de Imunizações, Carla Domingues.
Se está mais fácil ter meios de verificar se uma informação é falsa, o difícil ainda é descobrir a origem dela.
Neste caso, a estratégia do governo é fazer intervenções em cada postagem para informar que se trata de fake news, com riscos à saúde. Outra é usar redes próprias para contrapor as informações.
Em outros casos, o governo também pode pedir a retirada do material do ar.
EMPRESAS DIZEM COLABORAR PARA EVITAR AS DESINFORMAÇÕES
O WhatsApp informou que, “dada a natureza privada” da plataforma, tem focado em “educar as pessoas sobre desinformação” e na capacitação de usuários com novas opções de controle no aplicativo —caso do marcador que avisa aos usuários quando uma mensagem foi encaminhada.
Já o Twitter diz que trabalha para “coibir tentativas de manipulação das conversas” na plataforma. “Uma das frentes prioritárias em que atuamos é a luta contra spam e contas automatizadas mal-intencionadas”.
O Facebook diz que lançou ferramenta de verificação de notícias denunciadas como falsas em parceria com as organizações de checagem Agência Lupa, Aos Fatos e AFP. “Se identificarem que não há fatos que sustentem o conteúdo, as postagens terão sua distribuição reduzida no feed de notícias e não poderão mais ser impulsionadas”, informa.
O número para solicitar checagem do Ministério da Saúde via WhatsApp é (61) 99289-4640. Você pode repassar esse texto para o maior número de pessoas possível.