fonte: Saúde Business

Durante o webinar da Associação Brasileira de Estudos Populacionais e o Fundo de População da ONU, Jacson Barros, Diretor do Departamento de Informática do SUS (DATASUS/Ministério da Saúde) contou um pouco sobre os desafios na produção de dados populacionais no contexto da COVID-19.

Especialmente sobre as dificuldades enfrentadas na linha de frente no combate à pandemia, o responsável pela implementação da saúde digital no Brasil, diz que, apesar das várias dificuldades enfrentadas, é um momento muito bom para acelerar iniciativas.
“Antes de iniciar o COVID, nós estávamos trabalhando em um projeto chamado Conecte SUS, em Alagoas, que consistia na criação de uma rede de dados na área da Saúde”, disse Jacson. Em março ocorreria o início da validação do modelo da rede de dados, a partir do monitoramento e avaliação dos processos realizados nos municípios alagoanos. Seria uma quebra de paradigma reunir os dados dentro de uma plataforma nacional. Um dos grandes aprendizados dessa fase foi conseguir migrar parte do Data Center para a nuvem.
Com a demanda do coronavírus, o projeto foi pausado, e os esforços se voltaram para o desenvolvimento de um aplicativo para informar a população sobre a doença. O desafio foi o desenvolvimento em 2 dias, logo no início da pandemia. O objetivo do aplicativo era captar informações sobre a COVID, mas sem CPFs, ou seja, não havia correlação do ponto de vista populacional.
“O aplicativo foi feito em dois dias. Ele não foi criado de forma massiva, foi criado com o que tínhamos no momento, reaproveitado de outro aplicativo. Mas devido ao sucesso na divulgação, saiu de uma escala de milhares para milhões e a sua proposta teve que ser alterada. Isso permitiu que pudéssemos usar o aplicativo para captar outras informações”. A segunda versão contou com aprimoramento da performance, mensagens push e conexão com o TeleSuS, canal criado pelo Ministério da Saúde para verificar sintomas e esclarecer as suas dúvidas sobre o novo coronavírus
Uma das informações colhidas nesse momento foi sobre síndrome gripal leve, para analisar o panorama pré-COVID. Esse sistema teve o prazo de 4 dias para o desenvolvimento, Jacson explica que isso só foi possível pela experiência anterior na nuvem. Hoje o aplicativo atinge cerca de 10 mil acessos simultâneos no país. Outra demanda foi a captação ativa das informações dos usuários, na qual um robô liga para pessoas acima de 50 anos perguntado sobre o seu estado de saúde. Já foram realizadas mais de 120 milhões de interações.
Com a junção de todas essas informações, acabou-se criando uma grande massa de dados em relação ao Covid-19. Segundo o diretor do DataSus, o primeiro ponto focal foi a captura de dados, e em um momento posterior, a disponibilização dos mesmos. Inclusive para a comunidade, com o intuito de fomento a pesquisa.
O segundo grande grupo de ações está relacionado ao projeto de Alagoas, a Rede Nacional de Dados em Saúde (RDNS). Ainda não pode-se dizer que é um prontuário eletrônico, mas é certamente uma quebra de barreira em relação à troca de informação segura em saúde. O sistema tem como foco o resumo do atendimento, sumário de imunização, medicamentos dispensados e exames realizados. O último item, ainda em andamento.
“A RDNS é o motor que propicia tudo isso. Já implementamos a RNDS em todos os estados nacionais. É como se tivéssemos várias caixas d’água, uma para cada estado. Mas elas estão vazias porque não focamos em enchê-las com outros dados. Enchemos, por hora, de exames realizados sobre COVID-19”, explica Jacson, e continua, “No momento que começarmos a receber os dados de todos os laboratórios nacionais, eles vão cair nesse motor que vai trafegar todas as informações e disponibilizar essa informação para quem precisa”. Sobre o projeto, ele comenta: “Foi uma anarquia completa!”. Foram realizadas APIs com os municípios para o fluxo de dados e notificações, uma ação muito bem recebida e com alto engajamento.
O terceiro grupo de ações, também ligado à conectividade, é sobre a disponibilização de internet nas quase 50 mil Unidades de Saúde da Família. Como todos os dados integrados, vindos de diferentes pontos da rede de atenção à saúde, será o primeiro passo para preencher o gap existente entre as informações da atenção primária e especializada. Isso também permitirá que o paciente saiba exatamente quais atendimentos recebeu, e um maior controle do sistema quanto se trata da jornada do usuário e duplicação de exames, mais eficiência e organização para o setor público, e uma melhor oferta de serviços assistenciais para a população.
Sobre os próximos passos, Jacson ressalta o trabalho para a disponibilização dos dados tratados de forma segura e aberta, e a execução do plano de contingência para o COVID-19,  que visa principalmente estabelecer uma estrutura de responsabilidade para tomada de decisão do DATASUS durante a epidemia no auxílio ao governo para enfrentamento dessa emergência de saúde pública.