fonte: Folha de SP

Uma pesquisa feita pela Prefeitura do Rio de Janeiro e pelo Ibope constatou que 17% dos moradores de seis áreas muito populosas e em situação de vulnerabilidade na capital fluminense foram infectados pelo novo coronavírus até o início de junho.

No total, 556 das 3.210 pessoas que fizeram os testes rápidos tiveram resultado positivo para o vírus. Essa porcentagem está bem acima das marcas atingidas a nível nacional, segundo o estudo mais abrangente que está sendo feito no Brasil, o Epicovid-19.

A segunda e mais recente fase desse levantamento indicou que 2,8% da população de 120 cidades brasileiras pesquisadas já haviam tido contato com o coronavírus até o dia 7 de junho. Na cidade do Rio, o número era de 7,5% de infectados.

Os novos dados divulgados pelo prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) na segunda (22) mostram que o complexo de favelas da Cidade de Deus teve a maior prevalência entre as seis regiões incluídas, com 28% dos moradores testando positivo.

Atrás dela vêm as comunidades de Rio das Pedras (25%), Rocinha (23%) e Maré (19%). Depois, os bairros da zona oeste de Realengo (9%) e Campo Grande (5%), locais conhecidos por serem dominados por milícias. As seis regiões abrigam 14% da população do município.

Apesar de terem os menores índices de infectados, essas duas últimas áreas têm as maiores taxas de letalidade. A porcentagem do total de infectados que acaba por morrer é de 1,8% em Campo Grande e 1,2% em Realengo, enquanto não passa de 0,4% nas outras favelas –a Epicovid-19 apontou uma média de 1% em parte do país.

Para a prefeitura, essas taxas mostraram que a letalidade não é tão alta quanto se tem divulgado. “Temos ouvido às vezes a mídia falar sobre níveis de letalidade [altos] no Rio, só que muitas vezes levaram em consideração o número de testes positivos naquela comunidade”, disse Flávio Graça, superintendente da Vigilância Sanitária municipal.

“Por exemplo, eram 250 infectados e 50 vieram a óbito. Isso dava 20% de letalidade, e esse trabalho vem mostrar uma realidade diferente que tem que ser falada”, afirmou ele à imprensa durante a divulgação dos números.

Os novos dados, porém, também dão uma ideia da subnotificação da Covid-19 que existe na cidade, já que em geral são contados apenas os casos sintomáticos e com complicações, dada a escassez de testes e outros problemas do sistema de saúde.

Com base no estudo, a prefeitura projeta haver 30 vezes mais contaminados do que o registrado oficialmente nessas seis áreas. Foram estimados quase 121 mil infectados, sendo que nos números oficiais há apenas 4.040 casos confirmados até o dia 22.

O caso da Cidade de Deus chama atenção: enquanto a projeção indica que 9.869 pessoas já devem ter pegado o vírus na favela, o painel de casos da prefeitura aponta só 184, uma quantidade 54 vezes menor.

Outra conclusão importante da pesquisa foi que cerca de metade dos moradores que tiveram contato com o vírus não tiveram sintomas, ou seja, nem sabiam que estavam infectados.

Apenas 1% relataram todos os sintomas – febre, cansaço, dor no corpo, dor de garganta, tosse, falta de ar e diarreia.
Os domicílios e indivíduos que participaram do levantamento foram escolhidos por meio de sorteios, como no estudo de abrangência nacional.

“Nós sorteamos regiões, depois áreas, blocos, casas e pessoas [que seriam] examinadas, para haver a maior imparcialidade”, explicou Graça.

Só foram incluídos moradores com mais de 18 anos, e não mais que uma pessoa de cada casa. Os dados foram coletados na primeira semana de junho por equipes da vigilância de saúde e sanitária, vinculadas à Secretaria de Saúde do município.

Essa foi a primeira parte do estudo, que contará com mais quatro etapas iguais, nos mesmos locais, para acompanhar a velocidade de expansão do número de contaminados. A segunda fase começará em 1º de julho.