fonte: O Globo

A oferta pública de ações (IPO, pela sigla em inglês) da Rede D’Or pode colocar o grupo do ramo de saúde no seleto time das empresas cujo valor de mercado supera os R$ 100 bilhões. Atualmente, este ranking contém apenas nove empresas. Os especialistas ponderam, no entanto, que o caso da Rede D’Or é um ponto isolado e que dificilmente outras empresas chegariam à Bolsa com tamanha capitalização.

Entre os motivos que explicam a robustez do possível valor de mercado do grupo hospitalar estão o envelhecimento da população e, mais recentemente, a pandemia da Covid-19. A empresa deve estrear na Bolsa no dia 10 de dezembro.

— O Brasil está perdendo seu bônus demográfico, e esse movimento não é de hoje. Conforme a população envelhece, passa a prestar mais atenção à saúde. O processo de crescimento das empresas de saúde é mais antigo. A favor da Rede D’Or também está a verticalização de suas operações, é a própria empresa quem controla os seus hospitais e serviços — explica Eduardo Guimarães, especialista em ações da Levante Investimentos.

Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos, acrescenta que o fato de a empresa oferecer serviços considerados premium também pesa para as projeções de uma valorização maior da rede:

— As operações da Rede D’Or são de ponta, seus hospitais estão no seleto grupo dos melhores do país. Isso também influencia na hora em que são feitas as contas para definir preço-alvo e capitalização. Além do serviço, a marca é um peso que contribui para fazer preço. Olhando para o mercado atual, é difícil encontrar empresas com tal perfil, o que dificulta apontar possíveis novos casos de IPO na faixa de R$ 100 bilhões.

Duas das empresas que fizeram ofertas de ações bem-sucedidos este ano, Grupo Mateus e Petz, estão com capitalização muito inferior àquela que a Rede D’Or pretende obter. No fechamento dos negócios em 16 de novembro, a rede varejista do Norte e Nordeste valia R$ 18,5 bilhões. Já a empresa do ramo de pet shop fechou com valor de mercado de R$ 6,9 bilhões.

— O mercado está bastante seletivo quanto aos IPOs. Neste ano, vimos empresas desistindo de abrir capital porque as condições de preço não estavam vantajosas. E quem conseguiu, no momento do IPO, o valor de mercado ficou na faixa de R$ 5 bilhões. Existe espaço para muitas outras empresas e setores na Bolsa, mas dificilmente veremos uma capitalização inicial tão robusta como estes possíveis R$ 100 bilhões da Rede D’Or — acrescenta Guimarães.

Busca por rentabilidade

Os especialistas projetam que os IPOs devem seguir ocorrendo no Brasil por conta do maior apetite por rentabilidade dos investidores, especialmente pessoas físicas descontentes com os baixos retornos de aplicações mais conservadoras.

Em outubro deste ano, a Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, contabilizava 3,1 milhões de investidores pessoas físicas, um salto de 71,8% frente a janeiro. A projeção é que a pressão da demanda leve mais empresas a abrirem seu capital.

A taxa básica de juros (Selic) está hoje em 2% ao ano, seu menor patamar histórico, e a inflação deve encerrar 2020 em torno de 3%. Isso significa que aplicações conservadoras, como renda fixa e caderneta de poupança, estão com retorno negativo. A saída para os investidores é buscar opções de maior risco, como o mercado de ações.

— A partir do momento em que a remuneração da renda fixa não está sendo compatível com as expectativas de retorno, é preciso correr riscos. O mercado todo passou por sustos intensos no auge da pandemia, o que afetou muitas empresas. Elas viram na abertura de capital uma alternativa mais barata de conseguir recursos em um momento difícil como o recente. Se as empresas precisam de financiamento, investidores querem mais retorno. Isso explica, em partes, tantos IPOs em um ano conturbado como 2020 — sublinha Esteter, da Guide.

O analista acrescenta que o fato de haver mais empresas na Bolsa também favorece a economia real:

— Ao obterem financiamento mais barato pelo Bolsa, as empresas conseguem expandir suas operações. Isso tende a se traduzir em maior geração de empregos e, consequentemente, melhora na renda das famílias. A diversificação de empresas e setores é bom tanto para o mercado quanto para a economia real.