fonte: O Globo
O governo do Rio pediu à União a estadualização da gestão do Hospital Federal da Lagoa, que fica na Zona Sul do Rio. O projeto é convertê-lo em uma unidade de referência em atendimentos oncológicos. A transferência, que chegou a ser tratada pelo governador Cláudio Castro durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, voltou a ser discutida na segunda-feira durante reunião com o presidente Lula, em Brasília. Hoje o hospital atende pacientes em várias especialidades tendo apenas seis leitos de internação para pessoas com câncer.
— Falei para o presidente sobre a necessidade de universalizarmos a oncologia no Rio. Queremos, portanto, estadualizar o Hospital da Lagoa para torná-lo um grande centro oncológico. E assim desafogar os atendimentos no Inca (Instituto Nacional do Câncer), que está operando acima de sua capacidade — disse Castro.
O futuro Instituto Estadual do Câncer, estima a Secretaria estadual de Saúde, representaria um aporte entre R$ 250 milhões e R$ 300 milhões por ano, que seria arcado pelo estado, apesar da previsão de dificuldades de caixa nos próximos anos. O custo calculado é quase o triplo do atual — R$ 100 milhões, bancado pelo Ministério da Saúde.
Longa espera
Hoje há uma fila de espera por vários procedimentos oncológicos no estado. Dados de ontem do Sistema Estadual de Regulação (SER) mostram que 231 pessoas aguardam, por exemplo, uma primeira consulta para planejar os procedimentos de radioterapia — algumas delas há cerca de cinco anos. Por sua vez, existem 289 pacientes à espera da primeira consulta ambulatorial em proctologia. O primeiro entrou na fila em 26 de novembro de 2022.
Números do Hospital da Lagoa e do Inca — Foto: Editoria de Arte
O secretário estadual de Saúde, Doutor Luizinho, diz que a mudança é necessária até mesmo por causa do envelhecimento da população, que a torna mais suscetível a doenças como o câncer. Ele não deu um prazo para a conversão da unidade caso a União aceite a proposta. Indo adiante, o atendimento em outras especialidades feitos hoje no Lagoa seria feito por outras unidades da rede estadual.
— O objetivo do governo do Rio é estruturar o atendimento de alta complexidade do estado. A longevidade da população aumenta também a procura por serviços para os mais idosos, especialmente o de oncologia. Essa é a forma mais econômica e mais rápida para solucionar essa demanda — disse Luizinho.
Além do Lagoa, o governo do estado pretende concluir até o fim do ano a construção de um hospital especializado com 58 leitos em Nova Friburgo para anteder os moradores da Região Serrana. As obras, paralisadas desde 2016, foram retomadas este ano.
A discussão sobre o futuro do Lagoa ocorre dois meses depois que a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados ter feito uma inspeção em nove unidades federais no Rio. O monitoramento apontou uma série de problemas na rede, como leitos fechados por falta de pessoal ou infraestrutura adequada. No Lagoa, o grupo identificou que 92 leitos que constavam como ocupados estavam, na realidade, sem pacientes.
— A ideia de assumir a gestão de especialidades de alta complexidade é boa. O Rio é o único estado em que essa gestão está a cargo da União — disse o secretário municipal de Saúde do Rio e deputado federal licenciado, Daniel Soranz (PSD), que participou da inspeção. — Por outro lado, essa é uma unidade consolidada, com várias especialidades. Se a proposta do estado é ter um hospital de oncologia de referência na capital, ele poderia ser construído, por exemplo, na Zona Oeste, que é um deserto sanitário quando se fala de atendimento oncológico pelo SUS — acrescentou.
O Hospital da Lagoa é uma unidade que oferece múltiplas especialidades incluindo oncologia, clínica geral e neurologia, com 248 leitos no Sistema de Regulação. Inaugurada em 1962, a unidade chegou a ser municipalizada em 1999, assim como os hospitais Cardoso Fontes (Jacarepaguá), Ipanema e Andaraí. Mas, durante uma crise financeira na prefeitura, todos acabaram sendo devolvidos em 2005.