fonte: Folha de SP
por Sidney Klajner, cirurgião do aparelho digestivo e presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein
O exponencial aumento da capacidade de processamentos de dados e os filhotes que isso gerou em termos de novos recursos digitais revolucionaram o varejo, o setor financeiro, as empresas de tecnologia e vários outros segmentos. O de saúde não saiu na frente, mas os ventos da revolução digital vêm soprando nessa área, com um potencial poderoso para a superação dos enormes desafios que temos.
Como ampliar o acesso à saúde? Como entregar uma medicina que desperdice menos recursos, e não inflando custos sem trazer benefícios aos pacientes? Como assegurar melhores diagnósticos e tratamentos? Como lidar com as doenças crônicas que aumentam com o envelhecimento populacional?
A transformação digital em saúde pode ajudar a encontrar respostas. A medicina ainda está vagarosa nesse território, em parte devido à formação tradicionalista de médicos e outros profissionais de saúde, em parte porque alguns temem serem substituídos pelas máquinas, sem enxergar que a tecnologia os ajuda a cuidar melhor aumentando o tempo para se dedicar aos pacientes, imprimindo humanismo ao atendimento.
O prontuário eletrônico, por exemplo, além das informações de todo o histórico do paciente, incorpora algoritmos que ajudam na tomada de decisão. Os recursos de big data e inteligência artificial possibilitam soluções como a Central de Monitoramento Assistencial do Einstein, que acompanha em tempo integral os dados de todos os pacientes internados e alerta quando algum parâmetro alterado exige intervenção. São cerca de 150 indicadores e mais de 600 leitos monitorados.
Soluções desse tipo mostram como a transformação digital no setor da saúde é capaz de revolucionar processos, extrair inteligência de um enorme volume de dados e gerar resultados com uma rapidez e acurácia que não seriam possíveis para o cérebro humano.
Big data e inteligência artificial também são direcionadores de caminhos para o setor público. Um exemplo é o projeto do Einstein para o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi-SUS) que analisou o contexto de saúde em regiões de Minas Gerais e Bahia, gerando informações para melhor embasar o planejamento e a destinação dos recursos públicos.
A internet das coisas nos permite monitorar o paciente a distância por meio de wearables, como os que aferem a pressão arterial ou realizam eletrocardiograma. Aplicativos de triagem são capazes de direcionar o paciente para o médico da especialidade indicada para o seu caso. Outros funcionam como “mentores” para o autocuidado de saúde.
Já a telemedicina, além das teleconsultas, possibilita iniciativas como a do Einstein, cujos especialistas fazem visitas virtuais a pacientes de UTIs de hospitais do SUS que estão a milhares de quilômetros de distância.
Sem revolução digital e inteligência artificial também não teríamos a evolução da medicina “one size fits all” para a medicina personalizada, com centros capazes de processar o enorme volume de dados do sequenciamento genético e fazer a correlação com doenças específicas. São informações que permitem um melhor diagnóstico e tratamento individualizado, ou permitem atuar preventivamente.
Ampliação do acesso, redução de custos, eficiente gestão dos recursos (que são finitos), qualidade da assistência, prevenção de doenças e promoção da saúde. São imensos os desafios da saúde. Felizmente, igualmente imenso é o volume de dados que podemos processar e explorar com as tecnologias digitais para construir soluções.